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Pais e Mães do deserto
«Atletas de Deus»

Pe. José Artulino Besen

1. Homens e Mulheres no Deserto

século IV assistiu, nos desertos do Egito e da Síria, ao desenvolvimento de um novo estilo de vida cristã e de busca da santidade, iniciado no século anterior no Egito: a vida monástica. Homens e mulheres deixam a convivência familiar e comunitária e se retiram para o deserto, para viverem sozinhos (= monge) com Cristo e imitá-lo perfeitamente.

Sabemos que todas as religiões possuem essa busca da santidade concretizada no afastamento do mundo e de suas seduções. Isso vale para o hinduísmo, o budismo, o islamismo. A vida monástica cristã segue esse caminho natural dos que querem contemplar a Deus face a face, mas possui outras riquezas e causas.

Santo Antônio (Antão), o pai dos monges

A primeira causa inclui o componente evangélico da busca de perfeição: vender os bens, dar o adquirido aos pobres, deixar tudo e seguir a Jesus (Mt 19,21). Uma decisão pela amizade divina. Depois, devemos levar em conta o final das perseguições (311), quando a paz religiosa, a ausência do martírio, fez com que muitos cristãos se acomodassem nas estruturas do mundo, perdendo o ardor da santidade.

Os monges, por isso, são homens e mulheres que querem viver a fé radical, numa nova espécie de martírio: deixar tudo. Há também uma reação contra um excesso de intelectualismo nos teólogos, que passam a fazer da fé e da Palavra de Deus um exercício intelectual, especialmente na Escola de Alexandria.

O monge quer a fé pura, o Evangelho ao pé da letra. Ele despreza a cultura. Prefere permanecer analfabeto e decorar os textos sagrados, como de fato faz. Sua regra de vida é a Bíblia. Alguns autores citam também o empobrecimento do Império romano como causa de tantos homens e mulheres irem para o deserto.

Isso porque o Império, empobrecido, passou a cobrar sempre mais impostos, deixando os produtores com pouquíssima coisa. Ora, pensavam eles, em vez de trabalhar para o Império e passar fome, vamos para o deserto, onde encontramos o suficiente para viver, além da liberdade e da santidade.

Santo Antônio, o «Pai dos Monges »

Os primeiros monges se instalaram no deserto do Egito, simbolicamente no caminho entre Oriente e Ocidente, pelo final do século III. Algumas pessoas procuram lugares desertos para buscar a perfeição, fazendo penitência, trabalhando, meditando e orando.

São os eremitas (= homens do deserto) ou anacoretas (= homens que se retiram). O mais conhecido é Antão ou Antônio (250-356), pelo ano 275. Nascido de família cristã, ainda jovem, vende tudo, dá o dinheiro aos pobres e inicia o caminho da retirada: primeiro no cemitério, depois mais na periferia, entra no deserto e, à medida em que se fortalece espiritualmente, aprofunda-se sempre mais no deserto.

Não demora muito e homens e mulheres o procuram como Abbas (abade, pai espiritual), para guiá-los. Quando Santo Atanásio (297-373) publicou a Vida de Antônio foi imenso o entusiasmo por toda a Igreja, chegando ao Ocidente.

Os cenobitas e a vida comunitária

O viver sozinho podia conter o perigo da falta de discernimento, de orientação. Por isso, Pacômio organizou a vida cenobítica (= vida em comum). São Pacômio, eremita em 308 e cenobita em 325, acrescenta a vida comunitária na entrega radical ao Senhor.

A regra de vida é a Sagrada Escritura e a vida comunitária se inspira na comunidade primitiva de Jerusalém: igualdade absoluta no vestir e no comer, o trabalho como meio de sustento. O monge renuncia cada dia à própria vida para viver na caridade, na condivisão dos bens até chegar à doação da própria vida pelos irmãos.

Deve-se lembrar que, não havendo um mestre sábio e santo, alguns monges assumiram estilos de vida muito estranhos: viver por dezenas de anos no topo de uma coluna (os estilitas), emparedar-se como prisioneiro, até a morte, nunca banhar-se. Essas aberrações foram logo combatidas pela verdadeira vida monástica.

São Basílio e a expansão pelo Oriente

São Basílio Magno, fundador dos mosteiros com São Gregório

O estilo de vida monástico se propaga logo do Egito para a Síria, Palestina, Pérsia, Armênia, Geórgia. Em poucos anos, na Síria, são fundados 8 mosteiros masculinos e 2 femininos, com 500 monges.

Na Palestina surge o fenômeno da Laura (= povoado): há uma vizinhança física das habitações, uma para cada monge, formando uma certa unidade.

São Basílio Magno (330-379), neto de uma santa, filho de santa, irmão de três santos, bispo de Cesaréia, partindo da experiência do Egito e da Palestina, fundou a primeira fraternidade em 360 na cidade de Neocesaréia.

Basílio já nos coloca diante de edifícios próprios, os mosteiros-conventos. Anexo ao mosteiro funda os primeiros “hotéis” para acolher os peregrinos e pobres. Redige um Esboço de Ascese, uma regra que inclui indicações de um modelo de vida, com 1500 citações do Novo Testamento. Coloca o motivo principal da vida monástica no amor de Deus.

O centro desta vida não é o combate ao demônio, mas o serviço aos outros. A pobreza é um modo de ajudar os pobres. A comunidade é uma casa de fraternidade, de oração, de trabalho e de apostolado.

Basílio retira a comunidade do deserto, pois ela pode estar no centro da cidade ou proximidades.

Constantinopla logo tem 67 mosteiros masculinos na cidade.

São Basílio, até hoje, é o pai da vida monástica de todo o Oriente cristão. Outro grande teólogo e incentivador da vida monástica foi Evágrio Pôntico (346-399), conhecido como o primeiro teólogo da vida mística.

A vida monástica no Ocidente

Palestina: mosteiro no Monte das Tentações

Após contatos com Atanásio e Basílio, Eusébio de Vercelli estabelece a vida cenobítica na Itália, impondo a vida comum para seu clero. Ambrósio de Milão segue sua inspiração. Em Roma nascem conventos femininos pelo ano de 350, depois fazendo o caminho de retorno à Palestina, ali fundando conventos latinos. Grande incentivador foi São Jerônimo.

Na Gália, encontramos São Martinho, bispo de Tours, primeiramente como eremita e depois como fundador de mosteiros. Outros nomes: Honorato de Lérins, João Cassiano em Marselha e Cesário de Arles. Pouco à pouco a vida monástica se expande para a Irlanda, Escócia e Inglaterra.

Santo Agostinho (354-430) desenvolveu a forma clássica de monaquismo latino na África, inspirado no Egito. Vivia em Hipona, sua diocese, em modo monástico com seus sacerdotes. Apoiado em Atos 4,32.35b, desejava que seus sacerdotes tivessem um só coração e uma só alma, tendo cada um segundo a sua necessidade. Para Agostinho, a base da vida monástica é a unidade do coração e a comunhão dos bens.

A Regra de Santo Agostinho inspirará centenas de congregações e ordens religiosas até os dias de hoje.

O Ocidente, contudo, terá seu grande e insuperável mestre: São Bento e a Regra dos Beneditinos.

Os monges

Diferente do Ocidente, o Oriente não conhece ordens e congregações religiosas: apenas se é monge.

Por que o fascínio pelo deserto? O deserto simboliza o silêncio, o misterioso. Tem vida e morte, frio e calor. É lá que se dá a luta entre Deus e Satanás, é lá que se deve combater o demônio e encontrar a Deus.

Quanto maior penetração pelo deserto, mais acirrada é a luta com o demônio. Por isso o monge, quanto mais perfeito, mais se adentra pelo deserto misterioso.

Ele quer ficar sozinho, mas logo vê à sua volta jovens querendo o mesmo caminho e muita gente vindo pedir oração e conselho.


Nota:

Publicação autorizada pelo autor.

Pe. José Artulino Besen é pároco de Itajaí e Prof. do ITESC - Instituto Teológico de Santa Catarina.

 

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