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A Iconografia à serviço da Ortodoxia Cristã

Lucas Diego Ganzella da Silva

No Antigo Testamento, representar Deus estava absolutamente fora de questão e até proibido por uma questão muito simples: O Deus abscôndito em sua natureza é propriamente invisível e escapa até mesmo de nossa razão, na questão de delimitá-lo. "Disse Deus a Moisés: 'Eu Sou quele que é'". Disse ainda a Moisés: 'Assim dirás aos israelitas: "EU SOU me enviou até vós'" (Êxodo 3:14).

De repente, esse Deus tornou-se visível aos nossos olhos, como já era previsto pelos profetas: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós"; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade" (S. João 1:14).

Cristo é o ícone de Deus por excelência e quem nega que Deus ainda não pode ser representado nega a própria encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. "Jesus clamou: 'Quem crê em mim não é em mim que crê, mas em quem me enviou; e quem me vê, vê aquele que me enviou'" (S. João 12:4445).

Como bem diz S. João Damasceno, em sua apologia contra os hereges iconoclastas: "Deus, o Incorpóreo, o Infinito, nunca foi retratado. Mas agora que Deus nasceu na carne e viveu entre os homens, faço uma imagem do Deus que pode ser visto. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria, que por minha causa tornou-se material e condescendeu habitar na matéria, que através da matéria realizou minha salvação. Não cessarei de venerar a matéria através da qual minha salvação foi realizada".

O iconógrafo não está preocupado com as formas em si, buscando ser realista na representação, no sentido naturalista. "Em contraste com a arte mais conhecida do ocidente, os ícones são feitos segundo regras antiquíssimas. Suas formas e cores não dependem meramente da imaginação e do gosto do iconógrafo, mas são transmitidas de geração a geração, obedecendo a tradições veneráveis.

A primeira preocupação do iconógrafo não é tornar-se conhecido, mas proclamar o Reino de Deus com sua arte" (1). Os iconógrafos querem transmitir o invisível através do visível. "Eles [os ícones] foram criados para o único propósito de oferecer acesso, através do portão visível, ao mistério do invisível" (2).

Quando o iconógrafo pretende fazer alguma representação propriamente de Deus Pai, representa-o como uma mão no céu.

"O símbolo mais antigo de Deus Pai é uma mão radiante que sai de uma nuvem. Por que se escolheu a mão como hieróglifo de Deus? Porque a palavra hebreia "iad" significa "mão" e "poder"; em estilo bíblico, "mão de Deus" é sinônimo de poder divino. A mão da justiça que os reis têm como insígnia de sabedoria, com o globo e o cetro, é uma sobrevivência desta muito antiga tradição. Esta mão é sempre a direita, a destra, que por ser mais forte tem proeminência" (3). Um exemplo do uso deste símbolo é no ícone da entrega das tábuas da lei ao profeta Moisés:

Outros ícones que remetem a episódios do Antigo Testamento, como Gênesis, por exemplo, representam Deus com a própria iconografia de Nosso Senhor Jesus Cristo já encarnado, porque o Cristo existe antes de todos os séculos: "E agora, glorifica-me, Pai, junto a ti, com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse" (S. João 17.5).

Diferente do que pensava o herege Marcião e os demais gnósticos, que contrastavam um Demiurgo com Deus Pai, no Antigo Testamento (e alguns, em pleno século XXI, persistem nesse erro), que acreditavam em um dualismo em que o "Deus do Antigo Testamento" era mau e o "Deus do Novo Testamento" era um Deus bom, Deus é Um e imutável, como bem diz Carlos Leão: "É Cristo que se manifestou a Adão, a Noé e aos patriarcas. É Cristo que se apresentou a Moisés como EU SOU O QUE SOU. É Cristo que se manifestou ao povo de Israel no Monte Sinai. Cristo é YAHWEH! Foi Cristo quem deu a lei. Foi Cristo quem falou pelos profetas. Todos os antropomorfismos de Deus são antropomorfismos de Cristo" (4). Partindo deste princípio, a representação de Deus nos episódios do Antigo Testamento como a figura de Cristo se torna muito comum e possui uma riqueza teológica incrível, pois logo de cara, com a representação de Deus em Cristo, lança por terra as heresias gnósticas.


Notas e Referências:

(1) NOWEN, Henri J. M. Contempla a Face do Senhor: orar com os ícones. São Paulo: Edições Loyola, 1997. Pág. 11.

(2) NOEWN, Henri J. M. Contempla a Face do Senhor: orar com os ícones. São Paulo: Edições Loyola, 1997. Pág. 11.

(3) ROCHA, Sara. Mão de Deus Dextra. Disponível em: http://iconografiasimbologianaartecrista.blogspot.com.br/2016/05/amaodedeusdextra.html. Acesso em 17 de Jul. 2016

(4) LEÃO, Carlos. YAHWEH E CRISTO. Disponível em: http://itinerariodeumluterano.blogspot.com.br/2016/07/yawehecristo.html?spref=fb. Acesso em 17 de Jul. 2016.

* Católico romano, estudante de História da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Imagens retiradas da internet.

 

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