|
|
Encíclica da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica,
a todos os cristãos ortodoxos (1848)
Uma resposta à encíclica do Papa Pio IX
«aos Patriarcas Orientais»
Aos Bispos do mundo inteiro, amados no Espírito Santo, nossos veneráveis e queridíssimos irmãos, ao piedoso clero e a todos os diletos filhos ortodoxos da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica: saudações fraternas no Espírito Santo e todos os bens de Deus, e Salvação.
Tradução do inglês por
Matheus Dias de Carvalho Begas
1. O santo ensinamento do Divino Evangelho da Salvação deve ser anunciado a todos em sua simplicidade original e sempre ser crido em sua pureza inalterável, do mesmo modo em que foi revelado aos seus santos apóstolos por nosso Salvador, que, por essa mesma causa, descendo do seio de Deus Pai, «aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens (Fp 2,7). Até mesmo os apóstolos, que foram testemunhas oculares e ouviram, como trombetas estrondosas, o que foi anunciado a todos os que estão debaixo do sol, pois “Por toda a terra correu a sua voz, e até os confins do mundo foram as suas palavras” (Rm 10,18); e, finalmente, os muitos Padres da Igreja Católica, grandes e gloriosos, em todas as partes da terra, que ouviram as vozes apostólicas em seus ensinamentos sinodais e individuais, chegaram a todos e em todos os lugares e até mesmo a nós. Porém, o príncipe do mal, este inimigo espiritual da salvação do homem, como antes no Éden, astuciosamente com o pretexto dum conselho proveitoso, tornou o homem um transgressor do mandamento divinamente inspirado. Assim, no Éden espiritual, a Igreja de Deus, ele tem, ao longo do tempo, enganado a muitos; e, misturando as drogas nocivas da heresia com as claras correntes da doutrina ortodoxa, dá de beber a muitos inocentes que vivem de maneira descuidada, não atentando “com diligência para as coisas que já temos ouvido”, (Hb 2,1), “Interroga teu pai e ele te contará; teus anciãos e eles te dirão” (Dt 32,7), de acordo com o Evangelho e com os antigos Doutores; e que, imaginando que a Palavra do Senhor pregada e escrita e os testemunhos perenes de sua Igreja não fossem suficientes para a salvação de suas almas, buscam, impiamente, novidades, do mesmo modo como mudamos o nosso vestuário, abraçando uma doutrina evangélica falsificada.
2. Por isso, surgiram diversas e monstruosas heresias, as quais a Igreja Católica, desde a sua infância, revestindo-se com “a armadura de Deus” e “a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus” (Ef 6,13,17), foi obrigada a combater. Ela triunfou sobre todas elas até hoje, e triunfará para sempre, sendo manifestada com mais poder e mais digna após cada luta.
3. Dessas heresias, algumas já fracassaram completamente, outras estão em decadência. Perderam-se algumas, outras ainda prosperaram em maior ou menor grau, vigorosas até o momento de seu retorno à Fé, enquanto outras ainda se reproduzem seguindo seu curso do nascimento até a sua destruição. Mas, sendo tão miseráveis as reflexões como os vícios humanos, uns e outros golpeados com o raio do anátema dos sete Concílios Ecumênicos, elas desaparecerão, embora possam durar mil anos. Somente a Ortodoxia da Igreja Católica e Apostólica, pela palavra viva de Deus, perdurará para sempre, segundo a promessa infalível do Senhor: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Certamente, as bocas dos ímpios e hereges, as vezes audazes, outras plausíveis, por mais suaves que possam parecer, não prevalecerão contra a Doutrina Ortodoxa, cujo caminho é silencioso e sem ruído. Contudo, “Por que alcançam bom êxito os maus em tudo quanto empreendem? E por que razão vivem felizes os pérfidos? (Jr 12,1). “Vi o ímpio cheio de arrogância, a expandir-se como um cedro frondoso” (Sl 36,35), por que contaminam o culto pacífico de Deus? A razão disso é misteriosa, e a Igreja, apesar de orar diariamente para que essa cruz, esse mensageiro do maligno, afaste-se dela, já ouviu do Senhor: “«Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza». De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo”. “Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. (2Cor 12,9). “Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. (2Cor 12,10).
4. Dentre essas heresias difusas, com as que o Senhor conheceu o sofrimento em grande parte do mundo, primeiramente foi o arianismo e, atualmente, é o Papado. Esta também, como a anterior, foi extinta, embora agora esteja florescente. Mas não permanecerá, passará e será derrubada, e uma grande voz do céu clamará: “(...) porque foi precipitada (...) (Ap 12,10).
5. A nova doutrina que afirma que “o Espírito Santo procede do Pai e do Filho", é contrária à declaração memorável de nosso Senhor, feita enfaticamente: “que procede do Pai” (Jo 15,26), e contrária à confissão universal da Igreja, como testificada pelos sete Concílios Ecumênicos, que professa "que procede do Pai" (Símbolo da Fé).
i. Essa nova opinião destrói a unidade da única causa, bem como a origem diversa das Pessoas da Santíssima Trindade, ambas testemunhadas no Evangelho.
ii. Mesmo nas divinas Hipóstases das Pessoas da Trindade, de igual poder e igualmente adoradas, introduz-se diversas e desiguais relações, com uma confusão ou uma mistura delas.
iii. Reprova-se a prévia confissão da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica como imperfeita, obscura e difícil de compreender.
iv. Censuram-se os Santos Padres do 1º Concílio Ecumênico de Niceia e do 2º Concílio Ecumênico de Constantinopla, como se expressassem imperfeitamente a relação com o Filho e Espírito Santo, como se tivessem silenciado acerca da propriedade peculiar de cada pessoa da Trindade, quando era necessário que todas as propriedades divinas fossem expressas contra os arianos e macedonianos.
v. Criticam-se os Padres do 3º, 4º, 5º, 6º e 7º Concílios Ecumênicos, que haviam publicado no mundo um Credo divino, perfeito e completo, e que proibiram, sob terríveis anátemas e sanções, qualquer remoção, acréscimo, redução, variação ou alteração, o mínimo que fosse, por eles próprios ou por outros. Não obstante, isso foi rapidamente corrigido e ampliado e, consequentemente, toda a doutrina teológica dos Padres foi submetida à mudança, como se houvesse sido revelada uma nova propriedade acerca das três Pessoas da Santíssima Trindade.
vi. Clandestinamente, encontrou-se uma entrada, em primeiro lugar, nas Igrejas do Ocidente, "um lobo em pele de cordeiro", isto é, sob a significação, não de uma processão, de acordo com o significado grego do Evangelho e do Credo, mas com o significado de missão, como explicou o Papa Martin a Máximo, o Confessor, e como Anastácio, o bibliotecário, explicou a João VIII.
vii. Ela exibe incomparável astúcia, agindo sem autoridade e, forçosamente, coloca um falso selo no Credo, que é a herança comum do cristianismo.
viii. Ela introduziu enormes perturbações na paz da Igreja de Deus e dividiu as nações.
ix. Ela foi proscrita publicamente em sua primeira promulgação por dois Papas, Leão III e João VIII, o último dos quais, em sua epístola ao bem-aventurado Fócio, classifica como Judas aqueles que primeiramente introduziram a interpolação no Credo.
x. Foi condenada por muitos santos Concílios dos quatro Patriarcados do Oriente cristão.
xi. Foi submetida a anátema, como uma novidade e ampliação do Credo pelo 8º Concílio Ecumênico, reunido em Constantinopla para a pacificação das Igrejas do Oriente e do Ocidente.
xii. Assim que foi introduzida nas Igrejas do Ocidente, produziu frutos nefastos, trazendo com ela, pouco a pouco, outras novidades, a maior parte contrária às ordens expressas do nosso Salvador no Evangelho — mandamentos que até a sua entrada nas Igrejas eram observados cuidadosamente. Dentre essas novidades, pode-se enumerar a aspersão em vez da imersão no batismo, a negação do cálice divino aos leigos, a elevação de um único e mesmo pão partido, o uso de pães ázimos, sem fermento, em vez de pão de verdade, o desuso da bênção nas liturgias, mesmo a invocação ao Santíssimo e Consagrante Espírito (Epíclese), o abandono dos mistérios apostólicos da Igreja, tais como o de não ungir as crianças batizadas ou de não recebe-los na Eucaristia, a exclusão dos homens casados do sacerdócio, a infalibilidade do Papa e sua reivindicação como Vigário de Cristo, e assim por diante. Foi assim que esta interpolação conduziu à abolição do antigo padrão Apostólico de, nada menos que todos os mistérios e toda a doutrina, um padrão que a antigo, santa e ortodoxa Igreja de Roma guardava quando era a parte mais honrada da Igreja Santa, Católica e Apostólica.
xiii. Expulsou os teólogos do Ocidente, como seus defensores, uma vez que eles não tinham base nem nas Escrituras nem nos Padres para consentir com as doutrinas heréticas, não só em deturpações das Escrituras, o que não se via em nenhum dos Padres da Igreja, mas também em adulterações dos escritos sagrados e puros dos Padres, tanto do Oriente como do Ocidente.
xiv. Parecia estranho, insólito e blasfemo, mesmo para as comunidades cristãs de renome, as que antes de sua origem, durante anos haviam sido expulsas por outras causas justas do rebanho católico.
xv. Ainda não foi plausivelmente defendida fora das Escrituras ou, com menos razão, fora dos Padres, por acusações movidas contra ela, apesar de todo o zelo e esforço de seus partidários. A doutrina tem todas as marcas do erro decorrentes de sua natureza e peculiaridades. Toda doutrina errônea acerca da verdade católica da Santíssima Trindade, a origem das Pessoas divinas e a substância do Espírito Santo, é e será chamada de heresia. E os que a sustentam são chamados de hereges, de acordo com a sentença de São Dâmaso, Papa de Roma, que diz: "Se alguém justamente relaciona o Pai e o Filho e não relaciona justamente o Espírito Santo, é um herege" (Catequeses da Confissão de fé enviada pelo Papa Dâmaso a Paulino, bispo de Tessalônica). Pois a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, seguindo os passos dos Santos Padres, tanto do Oriente como do Ocidente, proclamou outrora aos nossos progenitores e novamente ensina hoje sinodalmente que a referida nova doutrina do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho é essencialmente uma heresia, e seus partidários, sejam quem forem, são hereges, de acordo com a sentença do Papa São Dâmaso, e que as congregações de tais também são hereges, e que toda a comunhão espiritual na adoração dos filhos ortodoxos da Igreja com estes é ilegal. Tal é a força do 6° cânon do 3º Concilio Ecumênico.
6. Esta heresia, que uniu a si mesma muitas inovações, como já foi dito, apareceu em meados do século VII, no início, secretamente, e logo em seguida, sob diferentes disfarces, nas províncias ocidentais da Europa, até que, arrastando-se por quatro ou cinco séculos, obteve precedência sobre a antiga ortodoxia daqueles lugares através da negligência dos pastores e o consentimento dos príncipes. Pouco a pouco, espalhou-se não só pelas Igrejas Ortodoxas de Espanha, mas também para as da Alemanha, França e Itália, cuja ortodoxia era conhecida por todo o mundo, que nossos Divinos Padres, como o Grande Atanásio e o Divino Basílio conferiram, e cuja simpatia e comunhão conosco até o 7º Concílio Ecumênico, preservaram inalterada a doutrina da Igreja Católica e Apostólica. Mas com o decorrer do tempo, pela inveja do maligno, as novidades relativas à doutrina ortodoxa do Espírito Santo, cujas blasfêmias não serão perdoadas aos homens, quer neste mundo ou no outro, conforme a palavra de nosso Senhor (Mt 12,32), e outras que sucederam com relação aos mistérios divinos, especialmente do Batismo salvador, da Santa Comunhão, do Sacerdócio, como nascimentos prodigiosos, estenderam-se até mesmo sobre a Antiga Roma. E, assim, surgiu, por aceitações de distinções especiais na Igreja como uma insígnia e um título, o Papado. Alguns dos Bispos desta cidade, denominados papas, como por exemplo, Leão III e João VIII, de fato, como já foi dito, denunciaram a inovação e a publicaram ao mundo. As primeiras, pelas placas de prata; mais tarde, por carta ao São Fócio, no oitavo Concílio Ecumênico, e outro para Sphendopulcrus, pelas mãos de Metódio, bispo de Moravia. A maior parte de seus sucessores, no entanto, os Papas de Roma, atraídos pelos privilégios antissinodais oferecidos a eles pela opressão às Igrejas de Deus, e encontrando nisto muita vantagem mundana, e "uma grande ganância", e concebendo uma monarquia na Igreja Católica e um monopólio dos dons do Espírito Santo, mudaram a antiga adoração segundo sua vontade, excluindo-se a si mesmos, por causa dessas inovações, do antigo sistema de governo cristão recebido. Tampoco cessaram seus esforços mediante projetos ilegais (como a história nos assegura), para seduzir os outros quatro Patriarcados à sua apostasia da Ortodoxia, e submeter a Igreja Católica aos caprichos e preceitos de simples homens.
7. Nossos ilustres predecessores e padres, em unanimidade de labor e conselho, vendo a doutrina evangélica recebida dos Padres serem pisoteadas e o manto de nosso Salvador, tecido nas alturas, ser rasgado pelas mãos dos iníquos, e estimulados pelo amor paternal e fraternal, lamentaram pela desolação de tantos cristãos pelos quais Cristo morreu. Dedicaram grande zelo e ardor, tanto sinodal como individualmente, para que, sendo salva a doutrina Ortodoxa da Santa Igreja Católica, pudessem juntos reunir, tanto quanto fossem capazes, o que havia sido dispersado. E, como médicos experientes, examinaram o membro que sofria, suportando muitas tribulações, desprezo e perseguições, para sondar se, eventualmente, o Corpo de Cristo não estaria dividido, ou as definições dos divinos e solenes Concílios não teriam nenhum efeito. Mas a história verdadeira nos transmitiu a implacabilidade da persistência ocidental no erro. Esses homens ilustres provaram, de fato, nesse ponto, a verdade das palavras do nosso Santo Padre Basílio, o sublime, quando disse, por experiência, sobre os Bispos do Ocidente e, em especial, o Papa: "Eles não conhecem a verdade nem se esforçam por aprendê-la, lutando contra aqueles que lhes expõem sobre a verdade, e se afanam em sua heresia" (para Eusébio de Samosata). Assim, depois de uma primeira e uma segunda admoestação fraterna, sabendo de sua impenitência, sacudindo-lhes para que se afastassem do erro, deixaram-se entregar à sua mente malvada. "A guerra é melhor do que a paz separada de Deus", como disse nosso Santo Padre Gregório, referindo-se aos arianos. Desde então, não tem havido comunhão espiritual entre nós e eles. Pois eles cavaram com suas próprias mãos um profundo abismo que os separam da Ortodoxia.
8. No entanto, o papado não cessou, neste sentido, de perturbar a paz da Igreja de Deus. Enviando a todos os lugares do mundo os chamados missionários, homens de mentes reprováveis, rodeia terra e mar para fazer proselitismo, para enganar os ortodoxos, corromper a doutrina de nosso Senhor, adulterar o símbolo divino de nossa santa Fé, banalizar o Batismo que Deus nos deu, a sagrada eficácia da comunhão do Cálice, além de milhares de outras coisas que o demônio da inovação ditou aos ousados escolásticos da Idade Média e aos Bispos da Velha Roma, aventurando-se a tudo pela cobiça de poder. Assim como nossos abençoados antecessores e Padres, em sua piedade, combatidos e perseguidos de muitas formas e por muitos meios, dentro como fora, direta ou indiretamente, sempre "confiantes no Senhor", foram capazes de salvar e nos transmitir essa herança inestimável de nossos Padres, também nós, com a ajuda de Deus, iremos transmitir como um rico tesouro para as gerações vindouras, até o fim do mundo. Mas, apesar disso, os papistas não deixam até hoje, nem deixarão, segundo seus costumes, de atacar a Ortodoxia — uma constante reprovação que eles têm diante dos olhos, como desertores da fé de nossos Pais. Oxalá essas agressões fossem dirigidas contra a heresia que se espalhou e dominou o Ocidente. Pois, quem duvida que, se o zelo que justificava os ataques à Ortodoxia fosse empregado no combate às heresias e novidades, isto sim, aceitável, segundo os conselhos amorosos de Leão III e João VIII, últimos e gloriosos Papas ortodoxos, nenhum vestígio disso poderia ser recordado neste mundo, e estaríamos agora afirmando todos juntos a mesma fé, segundo a promessa apostólica. Porém, o zelo daqueles que os sucederam não estava voltado à proteção da fé ortodoxa, em conformidade com o zelo digno de toda a recordação que estava em Leão III, agora entre os bem-aventurados.
9. Em certa medida, as agressões dos papas posteriores, em suas próprias pessoas, foram cessadas e levadas a cabo exclusivamente por meio dos seus missionários. Ultimamente, porém, Pio IX, tornando-se Bispo de Roma e proclamado papa, em 1847, publicou em 6 de janeiro deste ano uma encíclica dirigida aos orientais, que consiste de doze páginas na versão grega, e que, como uma praga que vem de fora, foi disseminada em nossa fé ortodoxa, por seu emissário. Nesta encíclica, dirige-se ele aos que, em diferentes tempos, destacaram-se em diversas comunidades cristãs e abraçaram o papado e, evidentemente, lhe são favoráveis, estendendo seus argumentos também à Ortodoxia, seja de forma particular, ou sem citá-la expressamente. E, citando a nossos divinos e santos Padres (p. 3, 1.14-18; p. 4, 1.19; p. 9, 1,6; E pp 17, 23) manifestamente os calunia, a eles e a nós, seus sucessores: eles, como se admitissem prontamente aos comandos Papais, porque os escritos vindos dos Papas são incontestáveis para a Igreja Católica. De nós, dizem que transgredimos esse exemplo disso nos acusam perante o rebanho ao qual Deus nos confiou, de haver-nos separados deles, e de descuidarmos de nosso dever sagrado e da salvação de nossos filhos espirituais. Depois, usurpando a Igreja Católica (Universal) como um bem pessoal, sob o pretexto da função que ocupa, presumindo poder gloriar-se da sede episcopal de São Pedro, querem enganar os mais simples e incitá-los a renegar a Ortodoxia, acrescentando essas paradoxais palavras a qualquer um que um mínimo de instrução teológica (p. 10, 1.29): "Não tendes nenhuma razão para recusardes retornar para a verdadeira Igreja e à comunhão com esta santa Sé”.
10. Cada um de nossos irmãos e filhos em Cristo, educado e instruído na piedade, compreenderá facilmente, lendo com discernimento e à luz da sabedoria recebida de Deus, que as palavras do atual bispo de Roma, como as dos seus predecessores sobre o mesmo tema, não são palavras de paz e amor, como ele afirma (p. 7, 1.8), mas palavras de astúcia e engano, e que não têm outro fim que seu auto engrandecimento; e tal era a prática dos seus predecessores que sempre atuaram depreciando os Concílios. Estamos, portanto, seguros de que agora como no futuro os ortodoxos não se deixarão enganar. Porque a palavra de nosso Senhor é justa: «Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos» (Jo, 10, 5).
11. Por tudo isso, estimamos ser nossa obrigação paterna e fraterna e um dever sagrado, confirmar-vos, pela presente admoestação, na Ortodoxia, a qual vós manteis de vossos antepassados. Ao mesmo tempo, salientamos o vazio dos silogismos do Bispo de Roma, dos quais ele está manifestamente consciente. Pois, não é a Profissão de Fé Apostólica que glorifica o Trono de Pedro, mas, é a partir de seu Trono Apostólico que ele busca estabelecer a dignidade da sua Profissão de Fé. A verdade fica, pois, invertida. Considera-se de São Pedro o Trono de Roma, por uma única tradição, não pela Sagrada Escritura, cujo crédito é dado em favor da Igreja de Antioquia, testemunhada pelo grande São Basílio (Ep. 48 Athan.) como “a mais venerável de todas as Igrejas do mundo”. Além disso, o segundo Concílio Ecumênico, em comunicado escrito a um Concílio do Ocidente (aos irmãos mais honrados, religiosos e servidores, Dâmaso, Ambrósio, Britto, Valeriano e outros), testemunhou, dizendo: “A mais antiga e verdadeira Igreja Apostólica de Antioquia, na Síria, a que em seu seio viu nascer a gloriosa denominação de ‘cristãos’”. Será ainda preciso dizer mais, a parte de que, o bem-aventurado Pedro, em pessoa, foi julgado diante de todos segundo “a verdade do Evangelho” e, segundo o testemunho das Escrituras, considerado digno de censura por não trilhar a via estreita da retidão? O que pensar, então, dos que se orgulham e se ensoberbecem pelo Trono que julgam possuir? São Basílio, o Grande, mestre universal da Ortodoxia no seio da Igreja Católica, a quem os Bispos de Roma estão obrigados a nos referir (p. 8, 1.31), tem mostrado clara e explicitamente acima (7) qual a opinião que deveríamos ter dos julgamentos do inacessível Vaticano: “Eles não conhecem a verdade nem se esforçam para aprendê-la, mas lutam contra aqueles que lhes dizem a verdade, e fortalecem-se, assim, em sua própria heresia”. De modo que, esses mesmos Santos Padres que nos são citados por “Sua Santidade” como exemplo, com justa admiração por terem ensinado e iluminado até mesmo o Ocidente, estes santos padres nos ensinam que não convém julgar a Ortodoxia a partir da Sede, mas que a Sede e aquele que a ocupa devem ser julgados segundo as Sagradas Escrituras, as regras e decisões dos Concílios e pela Fé professada; ou ainda, dito de outra forma, segundo o ensino eterno da Igreja. Assim fizeram nossos Padres, julgaram e condenaram Honório, Papa de Roma, Dióscoro, Papa de Alexandria, Macedônio e Nestório, Patriarcas de Constantinopla, e Pedro Gnapheus, Patriarca de Antioquia, entre outros. Pois se, conforme o testemunho das Escrituras (Dn 9,27 e Mt 24,15) “a abominação da desolação estava no Lugar Santo”, por que a inovação e a heresia não estariam em um Trono sagrado? Isto mostra-se resumidamente a fragilidade e insuficiência dos argumentos em favor da supremacia do Papa de Roma. Pois, se a Igreja de Cristo não houvesse sido fundada sobre a rocha inabalável da Confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (que foi a resposta comum de todos os Apóstolos à pergunta que lhes era posta: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15), como os Padres, orientais e ocidentais, interpretam esta passagem), mas sobre o débil fundamento da pessoa de Cefas, e com maior razão aos papas, que depois de monopolizar as Chaves do Reino dos Céus, usam-nas como bem testemunha a história. Mas os nossos divinos Padres, unanimemente ensinam que o sentido do tríplice mandato, “Apascenta as minhas ovelhas”, não constitui nenhuma prerrogativa dada exclusivamente a Pedro e, muito menos, aos seus sucessores. Foi simplesmente sua reabilitação na dignidade apostólica perdida após a também tríplice negação. O próprio São Pedro parece ter compreendido assim o sentido da tríplice pergunta de nosso Senhor: «Tu amas-me mais do que estes?» (Jo 21,15), pois recordava o que ele havia dito ao Senhor: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!» (Mt 26, 33), e afligiu-se ele porque Ele disse-lhe pela terceira vez: «Amas-me?» Mas, seus sucessores, perseguindo seus próprios interesses, interpretam estas palavras no sentido que lhes seja mais favorável.
12. Sua Santidade, o Papa, diz (p. Viii. 1.12.) que nosso Senhor disse a Pedro (Lucas 22: 32), “Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos”. Nosso Senhor assim orou porque Satanás tentara a fé de todos os discípulos, mas o Senhor permitiu somente em relação a Pedro, principalmente porque pronunciara palavras de orgulho, e justificou-se a si acima dos demais: “Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei” (Mt 26, 33). A permissão para Satanás era temporária. Quando “Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: ‘Não conheço esse homem!’” (Mt 26,74). Pois tão débil é a natureza humana quando nos entregamos a ele, pois, “O espírito está pronto, mas a carne é débil” (Mt 26, 41b). Sua tentação, dizemos, foi temporária a fim de que, caindo em si e tendo se purificado pelas lágrimas de arrependimento pudesse melhor confirmar seus irmãos na confissão d’Aquele que não haviam traído ou negado. Ó, os desígnios do Senhor estão plenos de sabedoria! Quão abundante e divina em mistérios foi a última noite do Senhor nesta terra! Esta mesma ceia mística se cumpre, segundo cremos, cada dia conforme a palavra do Senhor: «Fazei isto em minha memória. » (Lc 22, 19) e, em outro lugar, “Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (1ª Cor 11,26). O amor fraterno que nos foi ordenado com tanta insistência por nosso mestre a todos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35), este amor que os papas, como os primeiros, quebraram protegendo e aceitando inovações heréticas, desprezando o que nos foi anunciado e confirmado pelas disposições de nossos pais e mestres comuns, este mesmo amor que opera nas almas do povo cristão e, particularmente, nas de seus pastores. Pois, ousamos dizer diante de Deus e dos homens, que a oração de nosso Salvador (p. Ix. L.43) ao seu Pai e Deus, pedindo que o amor reine entre os cristãos e os mantenha na mesma igreja Una, Santa Católica e apostólica em que cremos, “de modo que sejam um, como Nós somos Um” (Jo 17,22), esta oração opera sobre nós como opera sobre “Sua Santidade”. Aqui, nossa aspiração ao amor fraterno e nosso zelo se confundem com os de “Sua Santidade”, com a única diferença que nós cultivamos este zelo para preservar intacto e puro o divino, irrepreensível e perfeito símbolo da fé cristã conforme o Evangelho, as decisões dos Sete Concílios Ecumênicos e a doutrina ininterrupta da Igreja Universal, enquanto "Sua Santidade" o emprega para reforçar e ampliar o poder e a supremacia dos soberanos pontífices, impondo suas inovações doutrinárias. Tal é, em suma, a realidade das dissenções e da discórdia entre nós; tal é o muro de separação que, de acordo com a divina a pregação e o concurso da sabedoria, tão reclamados por "Sua santidade", esperamos ver surgir sob seu pontificado: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16) (escutarão a verdade: “Que procede do pai”). Voltemos ao terceiro ponto: admitindo-se, segundo as palavras de "Sua Santidade", que a oração de nosso Senhor em favor de Pedro, que iria negá-lo e cometer perjúrio, esteja intimamente relacionada à Sé de Pedro e que transmite a sua influência a todos aqueles que, durante os séculos, ocupam esta cátedra, embora já tenhamos dito que nada confirma esta opinião (como podem nos convencer as escrituras, o próprio exemplo de São Pedro após a descida do Espírito Santo), cremos firmemente, em virtude das palavras do Senhor, que chegará o tempo em que esta oração, feita na expectativa do perjúrio de Pedro, irá operar sobre um de seus sucessores que, como Pedro, chorará amargamente e, arrependendo-se, nos confirmará ainda mais a nós, seus irmãos, na confissão ortodoxa que recebemos de nossos pais. Oxalá "Sua Santidade", fosse esse autêntico sucessor de Pedro. Poderíamos acrescentar a esta humilde oração um conselho sincero e cordial em nome da Santa Igreja Universal? Não nos atrevemos a dizer, como faz "Sua Santidade" (p. X. 1.22), que este retorno se dê imediatamente; mas, pelo contrário, que isso seja feito sem pressa, após madura reflexão e, se necessário, depois de consultas aos bispos e teólogos mais sábios e mais piedosos que ainda hoje, pelos desígnios de Deus, se encontram em todas as nações do Ocidente.
13. "Sua Santidade" escreve que o Bispo de Lyon, Santo Ireneu, assim se expressa em louvor à Igreja de Roma: "É essencial que toda a igreja, ou seja, os fiéis de todos os lugares do mundo, estejam em comunhão com esta Igreja em razão da sua preeminência por ter preservado, sobretudo, o que crê o conjunto dos fiéis, a tradição dos apóstolos". Embora este Santo Padre diga outra coisa, diferente do que pensam os bispos do Vaticano, mesmo que admitíssemos suas conclusões, caberia lhes perguntar: E quem nega que a antiga Igreja Romana era Apostólica e Ortodoxa? Nenhum de nós questionará que era mesmo um modelo de ortodoxia. E, para seu maior elogio, citaremos ainda as palavras do historiador Sozomeno (Hist. Eccl. lib. iii. cap. 12), sobre a maneira pela qual, em outra época, preservou a ortodoxia, e que "Sua santidade" omite: "Pois, como em toda parte", diz Sozomen, "a Igreja, em todo o Ocidente, sendo guiada apenas pelas doutrinas dos Padres, está isenta de toda a dissenção e discussão fútil”. Será que algum dos Padres, ou nós mesmos, negaríamos sua primazia na ordem hierárquica, conferida pelos cânones da igreja, considerando que ela foi guiada simplesmente pelas doutrinas dos Padres, caminhando pela clara regra da Escritura e dos Santos Concílios? Mas, hoje vê-se que não foi preservado nela o dogma da Santíssima Trindade de acordo com o símbolo dos Santos Padres reunidos em Niceia, e em seguida, em Constantinopla, símbolo que foi confirmado pelos cinco Concílios subsequentes, anatematizando como hereges os que alterarem, ainda que um simples "i". Também não foi preservado o rito apostólico do Santo Batismo, nem a invocação ao Espírito Santo sobre os santos dons (epíclesis). Vê-se que a Eucaristia é conferida sem que se comungue do santo cálice (quanta profanidade!), considerado supérfluo, e muitas outras coisas estranhas, não só aos nossos santos Padres do Oriente, que em todo tempo foram a regra universal e infalível da ortodoxia, como bem sublinha “Sua Santidade” no que se refere a verdade (p. vi), mas também aos santos Padres do Ocidente. Vemos que a primazia pela qual “Sua santidade” combate com tanta força, como fizeram seus antecessores, de uma relação fraterna com prerrogativa hierárquica foi transformada em supremacia. Então, o que deve ser pensado de suas tradições orais, se as escritas foram submetidas a tal mudança e alteração para pior? Quem é tão ousado e confiante na dignidade do Trono Apostólico a ponto de ousar dizer que se o nosso Santo Padre Irineu voltasse à vida e visse a Igreja de Roma faltar tão explicitamente com a antiga doutrina apostólica em artigos tão essenciais e universais da fé cristã, não seria ele o primeiro a opor-se às novidades e as constituições arbitrárias dessa Igreja, tão justamente elogiada por ele por sua estrita observação das doutrinas de nossos Padres? Se visse, por exemplo, que a Igreja Romana, por instigação dos escolásticos, não apenas retirou de sua liturgia o antigo e apostólico rito da epíclesis, mutilando assim, lamentavelmente, o serviço divino em sua parte mais essencial, senão que, entre outras coisas, se esforça por todos os meios em extirpá-lo das liturgias das demais Igrejas Cristãs, alegando, de um modo tão indigno da Santa Sé da qual se gloria, que este uso teria sido “introduzido após a divisão entre o Oriente e o Ocidente" (p. xi. 1.11). O que não diriam os Santos Padres a respeito dessa novidade? Irineu nos assegura que “depois da invocação sobre pão terrestre do Espírito Santo de Deus (epíclesis), este já não é mais pão comum” (lib. IV. C. 34), entendendo com o termo “epíclesis” precisamente esta invocação pela qual se opera o mistério da Liturgia. Que esta era a fé de Santo Ireneu, atesta-nos um monge da ordem dos Irmãos Menores, Francisco Feu-Ardentio, em sua edição comentada das obras de Santo Ireneu, publicada em 1639: “Panem et calycem commixtum per invocationis verba habeas et sanguinem Christi vere fiere” (“O pão eucarístico e o vinho misturado com água, pelas palavras da invocação convertem-se, verdadeiramente, no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo” (lib. i. c. 18, p. 114). Ou, o que não diria sobre a inovação do vicariato de Cristo e da supremacia dos papas, pois que, por uma questão menor e quase indiferente em relação à celebração da Páscoa (Euseb. Eccl. Hist. v. 26), de forma corajosa e vitoriosa, opôs-se firmemente e derrotou a violência do Papa Victor, na Igreja livre de Cristo? Então, aquele mesmo Padre que “Sua Santidade” evoca como testemunho da primazia da Igreja de Roma, confirma que sua dignidade não reside na soberania nem na sua supremacia, que nunca foi exclusividade de São Pedro, mas uma precedência fraterna no seio da Igreja Universal concedida aos papas em consideração a celebridade e antiguidade de sua cidade. Assim é como o 4º Concílio Ecumênico, preservando a autonomia das Igrejas regulada pelo 3º Concílio Ecumênico, baseando-se nos princípios do 2º Concílio Ecumênico (cânon 3) que, por sua vez, apoia-se no cânone 6 do 1º Concílio Ecumênico, atribui simplesmente ao “costume” o tribunal de recurso dos papas sobre as Igrejas do Ocidente, declara que “os Padres atribuíram com razão privilégios à Igreja de Roma porque esta cidade era a capital do império (cânon 28), e nada é dito sobre o monopólio especial do Papa da apostolicidade de São Pedro, menos ainda sobre um vicariato dos bispos de Roma e um possível pastoreio universal. Esse profundo silêncio sobre tais importantes prerrogativas - uma interpretação da primazia dos Bispos de Roma fundada, não nas palavras: “apascenta minhas ovelhas”, ou mesmo “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, mas simplesmente em um costume, por ser a Cidade Imperial, e uma primazia concedida, não pelo Senhor, mas pelos Padres -, parecerá estranho, certamente, a alguns, tanto mais a “Sua Santidade”, que explica desta forma as suas prerrogativas, e que considera decisivo o testemunho do 4º Conselho Ecumênico em favor de sua sede. São Gregório, o eloquente, chamado o Grande (lib. i. Ep. 25), costumava referir-se aos quatro Concílios Ecumênicos (não à Sé Romana) como os quatro Evangelhos e a pedra angular sobre a que este edificada a Igreja Católica.
14. “Sua Santidade” diz (p. Ix. 1.12) quelos coríntios, por ocasião de um desacordo surgido entre eles, recorreram ao papa Clemente, o qual, depois de ter examinado e julgado este assunto, enviou-lhes uma carta que foi lida em todas as igrejas. Mas este argumento - autoridade dos papas na Casa de Deus - é muito fraco. Posto que Roma era então o centro da província imperial, era natural que todos os problemas, ainda que de menor importância como este desacordo entre os coríntios, fosse julgado nesta cidade, principalmente se uma das partes em conflito para lá correu buscando ajuda externa: como é feito até hoje. Os Patriarcas de Alexandria, Antioquia e Jerusalém, quando surgem dificuldades inesperadas, escrevem ao Patriarca de Constantinopla, porque esta era a cidade dos imperadores e, ademais, gozava de prerrogativas concedidas pelos Concílios. E, se por esse concurso freterno é corrigido o que deve ser corrigido, é bom; do contrário, o assunto é relatado para a província, conforme o sistema estabelecido. Porém, este acordo fraterno em assuntos da fé cristã jamais pode ser exercido em detrimento da liberdade das Igrejas de Deus. O mesmo deve ser feito a propósito dos exemplos (p. Ix. 1. 6,17) apresentados por “Sua Santidade”, e tomados da vida dos santos Atanasio, o Grande, e João Crisóstomo; são exemplos de uma ajuda fraterna normal, derivada dos privilégios dos bispos de Roma, Júlio e Inocêncio; no entanto, seus sucessores queriam hoje que aceitássemos dócilmente a adulteração que fizeram do símbolo da fé; no entanto, o próprio Júlio manifestou sua indignação contra alguns por "confundir e perturbar a ordem nas Igrejas, ao não respeitar os dogmas de Nicéia" (Soz. Hist. Ec. lib. iii. c. 7), ameaçando-os (id.) de excomunhão "se não cessassem de introduzir suas inovações". No caso dos coríntios, é importante notar que, das três sedes patriarcais que existiam então, Roma era a mais próxima e a mais importante para os coríntios e, por isso, era a esta sede que deviam, conforme os cânones, recorrer. Em tudo isso não vemos nada de extraordinário nem qualquer prova do poder despótico do Papa na livre Igreja de Deus.
15. Contudo, finalmente, sua Santidade diz (p. Ix. L.12) que o quarto Concílio Ecumênico (que por engano ele o transfere de Calcedônia a Cartago), quando leu a epístola do Papa Leão I, gritou: "Pedro falou por Leão". De fato, foi assim. Mas Sua Santidade não deveria esquecer-se de como, e depois do exame, nossos Padres clamaram, como eles o fizeram, em louvor de Leão. Entretanto, como Sua Santidade, com breve consulta, parece ter omitido esse ponto muito necessário, e a prova manifesta que um Concílio Ecumênico não está apenas acima do Papa, mas acima de qualquer Concílio, explicaremos ao público o assunto como ele realmente aconteceu. Dos mais de seiscentos Padres reunidos Concílio 1 da Calcedônia, cerca de duzentos dos mais sábios foram nomeados pelo Concílio para examinar tanto o idioma como o sentido da epístola de Leão. E ainda para fornecer, por escrito e com suas assinaturas, julgamentos se isso seria ortodoxo ou não. Cerca de duzentos julgamentos e resoluções sobre a epístola, encontrados principalmente na Quarta Sessão do referido Santo Concílio, dizem nos seguintes termos: "Máximo de Antioquia, na Síria, disse: 'A epístola do São Leão, Arcebispo de Roma Imperial, concorda com as decisões dos trezentos e dezoito Santos Padres pais em Nice, e os cento e cinquenta em Constantinopla, que é a nova Roma, e com a fé exposta em Éfeso pelo Santo Bispo Cirilo: eu o tenho subscrito".
E novamente:
"Teodoreto, o Bispo mais religioso de Cyrus: 'A epístola do Santíssimo Arcebispo, o senhor Leão, concorda com a fé estabelecida em Niceia pelos Santos e Bem-Aventurados Padres, e com o Símbolo da Fé exposto em Constantinopla pelos duzentos e cinquenta e com as epístolas do abençoado Cirilo. E aceitando-a, subscrevo a referida carta."'
E assim, todos em sucessão: "A epístola corresponde", "a epístola é consoante," a epístola concorda em sentido ", e assim por diante. Depois de tão grande e muito exame minucioso na comparação com os antigos Santos Concílios, e uma plena convicção da exatidão do significado, e não apenas porque era a carta do Papa, clamaram, de bom grado, a exclamação em que Sua Santidade agora vangloria-se: Todavia, se Sua Santidade nos enviara declarações concordantes e em uníssono com os sete Santos Concílios Ecumênicos, em vez de vangloriar-se da piedade de seus antecessores, elogiados pelos nossos antecessores e Padres num Concílio Ecumênico, ele poderia justamente ter glorificado sua própria ortodoxia, declarando sua própria bondade, em vez da de seus Padres. Portanto, que Sua Santidade tenha a certeza de que, se, mesmo agora, escrever-nos-á tais coisas, como os duzentos Padres, com investigação e inquérito, consideraram de acordo com os referidos Concílios anteriores, então, podemos dize que ele ouvirá de nós, pecadores, hoje, não só que "Pedro tem falado", ou qualquer coisa como honra, mas isso também: "Que a mão santa seja beijada, a que enxugou as lágrimas da Igreja Católica."
16. Certamente, temos o direito de esperar da previsão prudente de Sua Santidade, um trabalho tão digno do verdadeiro sucessor de São Pedro, de Leão I e também de Leão III, o qual, para a segurança da Fé Ortodoxa, gravou o Credo Divino inalterado sobre placas imperecível — uma obra que unirá as igrejas do Ocidente à Santa Igreja Católica, na qual o assento do chefe canônico de Sua Santidade, e os assentos de todos os Bispos do Ocidente permanecem vazios e prontos para serem ocupados. Pois a Igreja Católica, que aguarda a conversão dos pastores que caíram fora dela com os seus rebanhos, não separa apenas no nome aqueles que foram secretamente introduzidos ao reinado pela ação dos outros, fazendo pouco do Sacerdócio. Mas esperamos a "palavra de consolo", e desejamos que ele, como escreveu São Basílio a Santo Ambrósio, Bispo de Milão (Epis. B6), "pisará novamente as pegadas antigas dos Padres". Com grande espanto, temos lido a referida carta Encíclica para os Orientais, na qual vemos com profunda tristeza de alma Sua Santidade, famoso por prudência, falando como seus antecessores em cisma, palavras que nos incitam a adulteração do nosso puro e Santo Credo, no qual os Concílios Ecumênicos definiram com seu selo. E ao violentar as liturgias sagradas, cuja estrutura por si só é celeste, e os nomes de quem as estruturaram, e seu tom na reverenda antiguidade, e o selo que foi colocado sobre eles pelo Sétimo Concílio Ecumênico (Lei vi.), deveria tê-lo paralisado, e fê-lo desviar da mão ousada e sacrílega que tem ferido o Rei da Glória. A partir dessas coisas, estimamos, o que é um labirinto indizível de erro e pecado incorrigível os quais a revolução do papado tem lançado até mesmo aos bispos mais sábios e mais piedosos da Igreja Romana, de modo que, a fim de preservar a inocência e, por conseguinte, a dignidade vicarial, bem como a primazia despótica e as coisas dependentes desta, eles não sabem de outros meios que devem insultar as coisas mais divinas e sagradas, desafiando tudo para essa única finalidade. Vestidos em palavras com reverência piedosa para "a antiguidade mais venerável" (p. Xi. 1.16), na realidade, permanece, no interior, o temperamento inovador. E, ainda, Sua Santidade realmente ouve sobre si mesmo quando ele diz que nós "devemos retirar de nós tudo o que nos tem penetrado desde a separação" (!), enquanto ele e os seus espalharam o veneno da inovação até mesmo na Ceia de Nosso Senhor. Evidentemente, Sua Santidade tem como certo que, na Igreja Ortodoxa, a mesma coisa aconteceu, e que ele está consciente que aconteceu na Igreja de Roma desde a ascensão do papado: uma mudança radical em todos os Mistérios e corrupção das sutilezas escolásticas, uma confiança na qual deve bastar como um equivalente para as nossas liturgias sagradas, mistérios e doutrinas. E, em verdade, reverenciando nossa "venerada antiguidade" e tudo isso por uma condescendência inteiramente Apostólica! — "sem", como ele diz, "incomodar-nos por quaisquer condições difíceis!". Dessa ignorância do alimento Apostólico e Católico, em que vivemos, emana outra declaração sentenciosa (p. Vii. 1. 22): "Não é possível que a unidade da doutrina e observância sagrada devam ser preservadas no meio de vós", paradoxalmente, atribuindo-nos o muito azar de que ele padece em casa. Assim como o Papa Leão IX escreveu para o bem-aventurado Miguel Cerulário, acusando os gregos de mudar o Credo da Igreja Católica, sem corar, quer para a sua própria honra ou para a verdade da história. Estamos convencidos de que, se Sua Santidade chamar a atenção para a arqueologia eclesiástica e a história, a doutrina Santos Padres e as antigas Liturgias da França e da Espanha, e o Sacramentário da antiga Igreja Romana, ele ficará impressionado com a surpresa em encontrar muitas outras filhas monstruosas que vivem trazidas pelo Papado à luz no Ocidente. Enquanto a Ortodoxia, conosco, tem preservado a Igreja Católica como uma noiva incorruptível para seu Esposo, embora não tenhamos poder temporal nem, como diz Sua Santidade, quaisquer sagradas "observâncias", mas o único laço de amor e carinho a uma Mãe comum está unido na unidade da fé selado com os sete selos do Espírito (Rev. v. 1) e pelos sete Concílios Ecumênicos, e em obediência à Verdade. Ele encontrará, também, o fluxo de muitas doutrinas papistas modernas e mistérios que devem ser rejeitados como "mandamentos de homens", a fim de que a Igreja do Ocidente, que introduziu todos os tipos de novidades, possa voltar novamente para a imutável Fé Ortodoxa Católica de nossos Padres comuns. Como Sua Santidade reconhece nosso zelo comum nessa fé, quando diz (p. Viii. L.30): "Tomemos cuidado com a doutrina preservada pelos nossos antepassados", então ele faz bem em nos instruir (l. 31) a seguir os velhos pontífices e os fiéis dos Metropolitas Orientais. O que esses pensamentos de fidelidade doutrinal dos Arcebispos da velha Roma, e qual ideia devemos ter deles na Igreja Ortodoxa, e de que maneira devemos receber seus ensinamentos, eles têm sinodalmente nos dado um exemplo (15), e sublime Basílio também tem o interpretado (7). Quanto à supremacia, já que não estamos estabelecendo um tratado, deixemos que o grande Basílio apresente o assunto em poucas palavras: "Preferia me dirigir a Ele, que é Cabeça sobre eles".
17. De tudo isso, cada um alimentado na sã doutrina Católica, particularmente Sua Santidade, deve tirar a conclusão, o quão ímpio e antissinodal é tentar alterar nossas doutrinas e liturgias e outros ofícios divinos que são, e provaram ser, contemporâneos com a pregação da Cristandade: razão pela qual a reverência foi sempre concedida, a quem foi confiada tão pura, mesmo pelos próprios antigos papas ortodoxos, que essas coisas eram uma herança em comum com nós mesmos. O quão santo seria a reparação das inovações, o tempo, cuja entrada na Igreja de Roma, sabemos em cada caso. Pois nossos ilustres Padres têm testemunhado, ao longo do tempo, contra cada novidade. Mas há outras razões que devem dirigir Sua Santidade a essa mudança. Em primeiro lugar, porque essas coisas que são nossas, uma vez foram veneráveis aos Ocidentais, como os mesmos ofícios divinos e o mesmo Credo. Mas as novidades não eram conhecidas por nossos Padres, e nem poderiam ser mostradas nos escritos dos Padres Ortodoxos Orientais, tampouco como tendo sua origem na antiguidade ou catolicidade. Além disso, nem os Patriarcas nem os Concílios poderiam introduzir novidades entre nós, pois o protetor da religião é o verdadeiro Corpo da Igreja. Até mesmo as próprias pessoas, que desejam seu culto religioso permanecer sempre inalterado e do mesmo modo que o de seus pais. Portanto, após o Cisma, muitos dos papas e Patriarcas latinizantes fizeram tentativas que não deram em nada, mesmo na Igreja Ocidental. E, de vez em quando, seja por bem ou por mal, os Papas ordenaram novidades por uma questão de conveniência (como explicaram aos nossos Padres, apesar de terem sido desmembrados do Corpo de Cristo), agora, novamente, o Papa, por causa de uma oportunidade verdadeiramente divina e mais justa, em verdade (não consertando as redes, mas o próprio rasgado da roupa do Salvador), atreve-se a opor-se às coisas veneráveis da antiguidade, as coisas bem ajustas para preservar a religião, como Sua Santidade confessa (p. xi. l.16) e ele próprio honra, como diz (lb 1.16), juntamente com seus antecessores, pois ele repete essa expressão memorável daqueles predecessores abençoados (Celestino, escrevendo para o terceiro Concílio Ecumênico): "Cessemos a novidade para atacar antiguidade." E deixemos a Igreja Católica desfrutar desse benefício a partir dessa declaração até agora irrepreensível dos Papas. Deve-se, por todos os meios, ser confessado que, em tal tentativa — apesar de Pio IX ser eminente em sabedoria e piedade, e, como ele diz, por zelo após a unidade dos Cristãos na Igreja Católica —, ele encontrará, dentro e fora, dificuldades e fadigas. E, aqui, temos de colocar Sua Santidade em mente se ele desculpar-se-á de nossa coragem, daquela parte de sua carta (p. Viii. L.32), "Que nas coisas que se relacionam com a confissão de nossa religião divina, nada deve temido quando olhamos para a glória de Cristo, e a recompensa que nos aguarda na vida eterna." Cabe a Sua Santidade mostrar-se perante Deus e do homem, que, como principal impulsionador do conselho que agrada a Deus, ele é um protetor disposto da verdade sinodal e evangélica maltratada, até para o sacrifício de seus próprios interesses, segundo o Profeta (Is. lx. 17) "Um governante em paz e um bispo na justiça. Que assim seja! Mas até que esse desejo de retorno das Igrejas apóstatas ao corpo da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, da qual Cristo é a Cabeça (Ef iv.. 15), e cada um de nós os "membros em particular", todos os conselhos deles, e cada ofício de exortação que tenda à dissolução de nossa pura fé pura transmitida dos Padres é condenada, como deveria ser, sinodalmente, não só como suspeito, mas que deve ser evitado, como ímpio e que destrói a alma. E, nessa categoria, entre os primeiros, colocamos a dita Encíclica aos Orientais, do Papa Pio IX, Bispo da Antiga Roma. E proclamamos que ele esteja na Igreja Católica.
18. Portanto, amados irmãos e companheiros de ministros de nossa mediocridade, como sempre, assim também agora, especialmente nesta ocasião da publicação da referida encíclica, é nosso dever inexorável, de acordo com a nossa responsabilidade patriarcal e sinodal, a fim de que ninguém possa ser perdido para a Divina Igreja Ortodoxa Católica, a Santíssima Mãe de todos nós, para encorajar uns aos outros, e exortar-vos que, lembrando um ao outro das palavras e exortações de São Paulo aos nossos Santos predecessores quando ele convocou-os a Éfeso, reiteramos uns aos outros: Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. “Portanto, vigiai”. (Atos 20:28-31.) Em seguida, nossos antepassados e Padres, ouvindo essa responsabilidade divina, choraram muito e, caindo sobre seu pescoço, beijou-o. Venham e permitam-nos irmãos, ouvi-lo admoestando-nos com lágrimas, caindo em espírito, lamentando, em seu pescoço, e, beijando-o, confortando-o pela nossa garantia firme, que ninguém poderá separar-nos do amor de Cristo, ninguém poderá enganar-nos da doutrina evangélica, ninguém poderá seduzir-nos do caminho seguro de nossos Padres, pois nenhum foi capaz de enganá-los, por qualquer grau de zelo que eles manifestaram, e que ao longo do tempo foram criados para esse propósito pelo tentador: de modo que, finalmente, ouviremos do Mestre: Muito bem, servo bom e fiel, obtendo o fim da nossa fé, até a salvação de nossas almas, e do rebanho razoável sobre o qual o Espírito Santo nos fez pastores.
19. Essa responsabilidade apostólica e exortação que citamos por vossa causa, e que a dirigimos a toda a congregação Ortodoxa, onde quer que seja encontrada na terra, aos Sacerdotes e Abades, aos Diáconos e Monges, em uma palavra, a todo o Clero e pessoas piedosas, aos governantes e os governados, ricos e pobres, pais e filhos, professores e estudiosos, educados e ignorantes, senhores e servos, que todos nós, apoiamos e aconselhamos uns aos outros que sejais capazes de resistir às ciladas do diabo. Porque assim São Pedro Apóstolo exorta-nos (1 Pedro 5:8): “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé”.
20. Pois nossa fé, irmãos, não é a dos homens nem de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo, que os Apóstolos divinos pregaram, que os Santos Concílios Ecumênicos confirmaram, que os maiores e mais sábios professores do mundo proferiram em sucessão, e que sangue derramado dos Santos Mártires ratificaram. Retenhamos firmemente à confissão que temos recebido, não adulterada de tais homens, afastando-se de cada novidade como uma sugestão do diabo. Aquele que aceita uma novidade reprova com deficiência a Fé Ortodoxa pregada. Mas essa Fé há muito foi selada em completude, sem admitir redução ou aumento, ou qualquer mudança que seja. E aquele que se atreve a fazê-lo, ou aconselhá-lo, ou pensar em tal coisa, tem assim já negado a fé de Cristo e por sua própria vontade foi golpeado com um anátema eterno por blasfemar contra o Espírito Santo, pois não falou totalmente nas Escrituras e através dos Concílios Ecumênicos. Esse temeroso anátema, irmãos e filhos amados em Cristo, nós não pronunciamos hoje, mas nosso Salvador o pronunciou primeiro: “Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”, Mateus (12:32). “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.” (Gálatas 1:6-9). Esse mesmo anátema os Sete Concílios Ecumênicos e todo o coro de Padres servidores a Deus pronunciaram. Todos, portanto, ao inovar, por heresia ou cisma, voluntariamente vestiram-se, de acordo com o Salmo (CIX. 18), ( "com uma maldição de um manto,") sejam eles Papas, sejam Patriarcas; Clero ou leigos. Se qualquer um, embora um anjo do céu, anuncie-vos outro evangelho além do que já recebestes, que seja anátema. Assim, nossos sábios Padres, obedientes às palavras salvadoras de almas de São Paulo, foram estabelecidos firmes na fé transmitida ininterruptamente para eles, e preservaram inalterada e não contaminada no meio de tantas heresias, e entregaram-na pura e imaculada, como veio pura da boca dos primeiros servos da Palavra. Vamos, também, sabiamente, transmiti-la, pura como a recebemos, para as próximas gerações, não alterando nada, para que possam ser, como somos, repleta de confiança, e sem nada para se envergonhar ao se falar da fé de seus antepassados.
21. Portanto, irmãos e filhos amados no Senhor, tendo purificado as vossas almas na obediência à verdade (1 Pedro 1:22), atentemos com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo os desviemos delas (Hebreus. 2:1). A fé e a confissão que recebemos não são para envergonhar-se. Ser ensinado no Evangelho da boca de nosso Senhor, testemunhado pelos Santos Apóstolos, pelos sete Sagrados Concílios Ecumênicos, pregado em todo o mundo, testemunhado por seus próprios inimigos, que, antes que eles apostataram da ortodoxia às heresias, eles próprios tinham essa mesma fé, ou pelo menos seus pais e antepassados a tiveram. É testemunhado pela história contínua, como triunfo sobre todas as heresias que têm perseguido ou que agora a perseguem, como vedes até os dias de hoje. A sucessão de nossos Santos Divinos Padres e antecessores, começando dos Apóstolos e aqueles a quem os Apóstolos nomearam como seus sucessores até hoje, formando uma cadeia ininterrupta, e juntando-se mão em mão, mantendo firme o invólucro sagrado do qual a porta é Cristo, em que todo o rebanho Ortodoxo é alimentado nas pastagens férteis do místico Éden e não no deserto árido e intransitável, como Sua Santidade supõe (p. 7.1.12). Nossa Igreja detém o depósito infalível e genuíno das Sagradas Escrituras, uma versão verdadeira e perfeita do Antigo Testamento, e do Novo e divino, o próprio original. Os ritos dos Mistérios sagrados e, principalmente, aqueles da Divina Liturgia, são os mesmos, gloriosos e vivificantes, transmitidos pelos Apóstolos. Nenhuma nação, nenhuma comunhão Cristã, pode gabar-se de tais liturgias como os de James, Basílio, Crisóstomo. Os solenes Concílios Ecumênicos, os sete pilares da casa da Sabedoria, foram organizados nelas e entre nós. Esta, a nossa Igreja, detém os originais de suas definições sagradas. Os principais Padres, o honrado Presbitério e a Ordem monástica preservam a dignidade primitiva e pura das primeiras idades da Cristandade, em pareceres, na política e até mesmo na simplicidade de suas vestimentas. Sim!, em verdade, "lobos cruéis" têm constantemente atacado santo invólucro, e estão atacando agora, como podemos ver por nós mesmos, de acordo com a previsão do Apóstolo, que mostra que os verdadeiros cordeiros do grande Pastor estão mantidos neles. Porém, a Igreja tem cantado e cantará para sempre: “Cercaram-me, sim, eles me cercaram, mas em nome do Senhor eu vou destruí-los (Ps.cxviii L1.)”. Vamos acrescentar uma reflexão, um doloroso fato, mas útil, a fim de manifestar e confirmar a verdade de nossas palavras: todas as nações cristãs, de qualquer natureza, que são hoje vistas invocando o Nome de Cristo (sem exceção do Ocidente em geral, ou a própria Roma, como provamos pelo catálogo de seus primeiros Papas), foram ensinadas para a verdadeira fé em Cristo pelos nossos santos antepassados e Padres. E os homens fraudulentos, muitos dos quais pastores, e chefes dos pastores também, dessas nações, por sofismas miseráveis e opiniões heréticas, atreveram-se a contaminar (Ai de mim!) a ortodoxia dessas nações, como a história verídica nos informa e como São Paulo previu.
22. Portanto, irmãos e filhos espirituais, reconhecemos como é grande o favor e graça que Deus concedeu sobre nossa Fé Ortodoxa e na Sua Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, que, como uma mãe que é insuspeita ao seu marido, alimenta-nos como filhos de quem ela não se envergonha, e que nos desculpa em nossa alta e enfraquecida ousadia em relação à esperança que há em nós. Mas o que devemos, pecadores, rendermos ao Senhor por tudo o que eles nos concedeu? Nossa generosidade, Senhor e Deus, que nos redimiu por seu próprio Sangue, não exige nada de nós, mas a devoção de toda a nossa alma e coração à fé irrepreensível e santa de nossos Padres, e amor e carinho à Igreja Ortodoxa, que nos regenerou, não com uma aspersão de novidade, mas com o lavar divino do Batismo Apostólico. Ela é que nos nutre, conforme a eterna aliança de nosso Salvador, com Seu próprio e precioso corpo, e abundantemente, como uma verdadeira Mãe, dá-nos de beber desse precioso Sangue derramado por nós e para a salvação do mundo. Cerquemo-nos então em seu espírito, como o jovem pássaro com seu pai, onde quer que na terra nos encontremos, norte ou sul, ou leste ou oeste. Fizemos nossos olhos e pensamentos em seu semblante divino e na sua mais gloriosa beleza. Seguremos com nossas mãos seu manto brilhante que o Esposo, "totalmente desejável", tem com Suas próprias mãos imaculadas ao redor dela, quando Ele redimiu-la da escravidão do erro e enfeitou-a como uma eterna Noiva para Si. Sintamos em nossas próprias almas a aflição mútua do amor da mãe para com os filhos, e do amor dos filhos para com a mãe, quando se vê que homens de mentes de lobo, aproveitando-se das almas, são zelosos para planejar como eles podem levá-las para o cativeiro ou arrancar os cordeiros de suas mães. Tratemos com carinho, Clero e Leigos, esse sentimento mais intensamente nesse momento, quando o adversário invisível da nossa salvação, combinando suas artes fraudulentas (p. Xi. 1. 2-25) emprega esses instrumentos poderosos e anda por todos os lados, como diz São Pedro, buscando a quem possa devorar. E quando, dessa forma, andamos de pacífica e inocentemente, ele coloca suas armadilhas enganosas.
23. Sendo assim, que o Deus da paz, "que tornou a trazer dentre os mortos o grande Pastor das ovelhas", "O que guarda a Israel", que "não deve cochilar nem dormir", "mantenham vossos corações e mentes", "e dirijam vossos caminhos para toda boa obra".
Que a paz e a alegria estejam convosco no Senhor.
Maio de 1848
†ANTHIMOS, pela misericórdia de Deus, Arcebispo de Constantinopla, Nova Roma e Patriarca Ecumênico, como irmão amado em Cristo nosso Deus, e suplicante.
†METHODIOS, pela misericórdia de Deus, Patriarca da grande Cidade de Deus, Antioquia e de todo o Anatólia, um amado irmão em Cristo, nosso Deus, e suplicante.
†CIRILO, pela misericórdia de Deus, Patriarca de Jerusalém e de toda a Palestina, como irmão amado em Cristo nosso Deus, e suplicante.
O Santo Sínodo em Constantinopla:
Paísio de Cesaréia, Anthimus de Éfeso, Dionísio de Heraclea, Joachim de Cyzicus, Dionísio de Nicodemia, Hierotheus de Calcedônia, Neófitos de Derci, Gerásimo de Adrianópolis, Cirilo de Neocaesarea, Theocletus de Berea, Melécio da Pisídia, Atanásio de Smyrna, Dionysius de Melenicus, Paisius de Sophia, Daniel de Lemnos, Panteleimon de Deyinopolis, Joseph de Ersecium, Anthimus de Bodeni
O Santo Sínodo em Antioquia
Zacharias de Arcádia, Methodios de Emesa, Joannicius de Trípoli, Artemius de Laodicea
O Santo Sínodo em Jerusalém
Meletius de Petra, Dionysius de Bethlehem, Philemon de Gaza, Samuel de Neapolis, Tadeu de Sebaste, Joannicius de Philadelphia, Hierotheus de Tabor
FONTE: http://orthodoxinfo.com/ecumenism/encyc_1848.aspx
|