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Matta el Meskin:

Comunhão no Amor

trad.: Pe. José Artulino Besen*

A nossa comunhão é com o Pai
e com o seu Filho Jesus Cristo. 1Jo 1,3

 

II - A Vida no Espírito

A ação espiritual

fundamento de nosso caminho - fundamento que será clarificado tanto para aqueles que apenas estão no início, quanto para aqueles que já tomaram a resolução de continuar a caminhada até o final - é a descoberta de um amor verdadeiro e ardente a Deus, de uma fé livre que não tenha outra preocupação que somente Deus, de um abandono confiante à vontade de Deus, de uma disponibilidade constante em renegar-se a si mesmo. Este fundamento é, na realidade, o conteúdo dos mandamentos de Deus, é o evangelho transformado em regra de vida.

Esses quatro pontos nada mais são do que condições que necessária e integralmente devem fazer parte de nossa existência antes de iniciar o caminho. Contudo, é necessário que nossa alma, de qualquer modo, esteja aberta a eles e deles provemos o desejo. Em si, porém, este fundamento não basta para preparar nosso espírito, nem para garantir um caminho livre de perigos. Alcançar o fim do caminho, atingir o reino de Deus e a união com Deus, reserva ainda numerosas dificuldades.

Por isso, é oportuno apoiar neste fundamento uma ação que lhe seja conatural e que se regenere continuamente. Uma ação que se realize no homem por meio de Deus, uma ação enfrentada através das tentações, as provas e as muitas dores que interna ou externamente atingem o homem, uma ação que se complete durante todo o percurso por meio da penitência, da submissão e do abandono da própria vontade em Deus. Esta ação põe à prova a força e a solidez do fundamento, delas reforçando a capacidade de influência e delas ampliando a base. Por acaso podemos esquecer o modo pelo qual Cristo exprimiu o amor que o fez aceitar os sofrimentos, e como ele aprendeu a obediência através do sofrimento, obediência até a morte? Como, ainda uma vez, seu total abandono foi posto à prova quando exclamou do alto da cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mc 15,34)? Podemos esquecer o modo como ele exercitou a negação de si nos sofrimentos voluntários do Getsêmani: Mas não se faça a minha vontade, e sim a tua (Lc 22,42), até o final do Tudo está consumado (Jo 19,30)?

Vê-se, com clareza que, durante toda a sua vida terrena, Cristo não procurou assentar-se à direita do poder do Pai, mas sim, dele realizar a vontade. Por isso, enquanto estamos a caminho, não nos é lícito fixar o olhar em eventuais favores e dons de Deus, para consegui-los. Nem mesmo os menores favores devem se tornar objeto de exigência em nossa oração. O que nos é pedido é fazer com todo o coração a vontade de Deus e fazer dela a finalidade de nossa ação, com toda submissão e reconhecimento, quaisquer que sejam as situações que Deus permite e as circunstâncias que escolhe para nós, confiantes por estarmos sob sua proteção, aconteça o que acontecer. Sentir uma grande atração pela perfeição cristã: disso é que precisamos. É a única coisa agradável a Deus, mas deve ser uma atração conforme ao seu desejo e às modalidades por ele escolhidas.

A perfeição não é o objeto de um desejo projetado num futuro obscuro, mas uma necessidade do espírito, no exato momento em que se o vive. No hoje, nós possuímos a nossa vontade, as nossas intenções e podemos oferecê-las a Deus; já o futuro, é Deus que o possui totalmente: não dispomos absolutamente dele e por isso nada podemos oferecer-lhe. Quem acredita poder oferecer seu futuro a Deus é semelhante a quem oferta um capital fictício. Nada conhecemos do futuro; não entra na esfera de nosso poder e, espiritualmente, não podemos discerni-lo. O instante que agora vivemos: eis o que possuímos da existência.

No instante presente tomamos consciência de nós mesmos, podemos discernir com clareza os nossos defeitos, mas também as potencialidades não usufruídas. É também no presente que podemos contemplar, com base naquilo que verdadeiramente há em nós, a vontade de Deus relativa àquilo que nos é pedido fazer. A perfeição cristã se concretiza em nós, no hoje, em função da realidade que percebemos: ela, de fato, está em nós e, se quisermos, podemos vê-la com a mesma clareza com que agora vemos o céu sobre nós e a terra sob nós... Pelo contrário, se dermos um passo atrás para examinar nosso passado, encontramo-lo obscurecido e disperso como por um vento que nos atinge e ultrapassa, sem que possamos segui-lo ou saber para onde foi. Se fixarmos lá nossa imaginação, afundamos em nossos pensamentos, vamos ao encontro de nosso fracasso ou, pelo menos, não alcançamos a perfeição. E se buscamos possuir o futuro, nos aprisionamos na previsão de pensamentos nebulosos e obscuros que nos prejudicam a visão e impedem-nos de discernir a perfeição que Deus deseja para nós.

Assim, nossa única esperança está na realidade colocada diante de nós com a finalidade de uma ação consciente; de fato, se perdemos em nós a delicadíssima percepção do presente e por indolência deixamos escapar a ocasião de agir no momento presente, o único oportuno, é a vida inteira que foge de nós.

Todavia, as nossas ações, mesmo se encerram amor, fé e negação de si, abandono à vontade de Deus, de per si não nos levam a um estado de santidade nem nos predispõem a algum dom e, nem mesmo, podem fazer-nos entrar num estado de plena segurança e paz.

E então, quem pode nos dar todos esses dons? Deus! O Deus que não cessa de guiar a alma dócil nos caminhos difíceis e nas provações, de obscuridade em obscuridade, entre as inquietações provocadas que, aparentemente, não têm nenhum sentido. De tal modo, fazendo-a enfrentar a realidade e aceitar provas dolorosas, guia-a e a faz atravessar o drama do mundo e a hostilidade dos malvados; deste modo, Deus a inicia naqueles dons que não chamam a atenção e numa vida de grande espiritualidade.

Os dons de Deus não estão nas mãos dos anjos, nem nas alturas dos céus. Podemos encontrá-los no confronto diário que a cada dia a carne, o mundo e os homens nos impõem. Por si só este confronto não atrai o dom de Deus, mas é por causa de Deus que nos abstemos das culpas da carne e enfrentamos o mal que há no mundo e no homem.

O dom da lucidez espiritual brota somente das trevas obscuras que o espírito atravessa na inquietação e no atordoamento das provas, às voltas com a realidade em que está encoberta a verdade. A alegria verdadeira e a perseverança fiel têm como fonte escondida aqueles sofrimentos e dores que o homem instintivamente rejeita. Mas, graças à paciência, o homem acaba por descobrir que nestas provações havia apenas uma aparente coerção que mascarava uma verdade clara, firme e esplendorosa, no espírito de uma alegria divina, não enganadora. O homem não pode saborear o amor divino na sua graça e imensidão, a não ser depois que seu espírito passou pela provação da hostilidade, do ódio, da provocação dos homens.

Mas, sozinha, a obscuridade não produz luz alguma, assim como a tristeza, sozinha, não traz a alegria, nem ódio produz o amor. Sozinha, a terra não produz as plantas, pois é necessária a semente, semeada com atenção e cuidado. Além disso, para germinar, deve-se pôr sob a terra não uma semente qualquer, mas aquela que contém vida!

De modo análogo, é necessário que o espírito esteja vivo e em estado de perfeita submissão a Deus, para que a mão misericordiosa o ponha na terra das provações, com aqueles cuidados e naquele modo exato que o ajudarão a tirar proveito da obscuridade, da dor, do desprezo e assim permitir-lhe-á comunicar o movimento de vida eterna, na qual se manifestam os atributos da eternidade: alegria, amor, paz e perseverança.

Deste modo, constatamos que, para o homem a caminho, é exigido estar num estado de vigilância constante nos confrontos de toda a realidade de sua vida, voltando o olhar atento àquela verdade onipresente que há nele e que exige ação e fadiga. É pedido ao homem estar pronto para enfrentar toda circunstância que seja causa de mal-estar e de antagonismo, com uma atitude positiva que saiba reconhecer os perigos reais e tirar proveito de tudo aquilo que acontece nele e para ele. É-lhe exigido buscar em toda atitude a união com Deus, submetendo-lhe inteiramente a vontade. Sem inquietação ou perturbação, qualquer que seja a situação, e sem angústia nem hesitação, por mais prolongada que seja a prova. E tudo isso sem precipitar-se em fazer suposições sobre as causas e sem, nem mesmo, apressar-se em querer conhecer as conseqüências.

*Publicação em ECCLESIA autorizada pelo Tradutor, Pe. José Artulino Besen.

 

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