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Diversão mundana e cristã
segundo São João Crisóstomo

Theodoros Zisis

Universidade Aristotélica de Tessalônica

Tradução de Pedro Ipiranga Júnior
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários,
UFMG e Spyridon Alexandrakis

Faculdade de Farmácia da Universidade Aristotélica de Tessalônica

N.T.: Esta tradução resultou de uma estadia de quatro meses na cidade de Tessalônica, graças à bolsa concedida pela CAPES, através do programa PDEE; neste período, maio a setembro de 2004, recebemos a orientação para a nossa pesquisa de doutorado do professor Zisis e, assim, podemos entrar em contato com vários de seus estudos enfocando a obra de São João Crisóstomo; resolvemos, então, traduzir um pequeno ensaio do professor Theodoros Zisis sobre a perspectiva deste Padre da Igreja acerca dos divertimentos de sua época, com ênfase dada ao teatro. Este artigo é escrito em grego ‘katarévousa', um registro de língua arcaizante, o qual é unicamente um registro da língua escrita, difícil até mesmo de ser compreendido pela maioria dos falantes de grego atualmente; está circunscrito, dessa forma, a alguns círculos acadêmicos ou religiosos. Não obstante uma perspectiva tradicional, este texto é altamente instrutivo e útil para verificarmos a posição dos homens da Igreja de então, séculos IV-V, que, como João Crisóstomo, apresentam uma atitude judiciosamente condenatória em relação ao teatro.

As opiniões de João Crisóstomo acerca do divertimento

rítica é a posição de Crisóstomo frente às várias manifestações de diversão, pelas quais se busca a satisfação da necessidade de fugir da monotonia da vida quotidiana, isso somado à procura do diversificado, do não habitual e do correspondente impulso, inato e potente, para a alegria, o riso e o júbilo. Na sua polêmica contra as manifestações em questão, não omite nenhuma, mas as critica minuciosamente, desde as relacionadas ao teatro até à conversação em tom de gracejo, cheia de piadas.

É aceito pelos comentadores que, entre todos os Padres da Igreja, Crisóstomo é o crítico mais severo em relação ao modo de divertimento das pessoas de sua época.

Determinados analistas, com efeito, atribuem essa sua cruzada antiteatral a um excessivo fanatismo ascético1.

No presente estudo, na primeira parte, por um lado, descrevemos, com base em Crisóstomo, os principais tipos de divertimento dos contemporâneos dele e expomos as razões, pelo ponto de vista da ética cristã, pelas quais ele sustenta a sua condenação, na segunda parte, por outro lado, fazemos referência ao modo de divertir-se de maneira cristã, assim como o compreende Crisóstomo.

Conteúdo:

Primeira parte: O divertimento mundano

1. Descrição

2. Razões da condenação do divertimento mundano

2.1. Gasto inútil do precioso tempo para a salvação - efeito danoso sobre a liturgia

2.2. Impedimento da benéfica função do sofrimento e das tristezas

2.3. O divertimento cristão

 

Primeira parte : O divertimento mundano

1. Descrição

A época de Crisóstomo constitui um período de extrema decadência do Teatro e das Belas-Artes a ele associadas, como a dança e a canção. Ainda mesmo os partidários do espírito de amor ao país ou ao Império, como o imperador Juliano, Díon Crisóstomo e Élio Aristides, posicionam-se contra ele.

2. As informações fornecidas por Crisóstomo sobre ele são muito interessantes até mesmo para a história do teatro. Os atores, homens e mulheres, eram pessoas da pior categoria moral, efeminados aqueles, prostitutas estas, e, em função disso, era de categoria similar o tipo de divertimento oferecido por eles. Segundo Crisóstomo, o tratamento prestado aos atores era incoerente. Legalmente eram considerados ‘sem honra’, pessoas “entre as quais o nome de infâmia é esperável”. Eram escalados principalmente na classe dos escravos; a entrada de cidadãos livres na classe dos atores era proibida por lei3. Não obstante, a diversão oferecida, segundo ele, pelos infames era aceita com entusiasmo e com bastante zelo; os atores eram admirados e honrados como embaixadores e generais, eram aclamados vivamente pelos espectadores, e, assim, a ‘desonra’ era abolida na prática. Todos abandonavam suas atividades e se apressavam para assistir às apresentações teatrais, as quais tinham lugar quotidianamente; e os espectadores as acompanhavam com tanta empolgação e constância de tal modo que “chegando pelo meio-dia, dali saíam sob a luz de lamparinas e candeias”4.

O comportamento em cena dos atores e o conteúdo das peças teatrais apresentadas, Crisóstomo os descreve minuciosamente no intuito de ridicularizá-los e de criar-lhes um sentimento de aversão moral. Jovens atores, com longa cabeleira por trás, esforçavam-se, pelo olhar, pelos movimentos, pelas vestes e por toda a aparência em geral, “em figura de delicada moça se mostrarem”. Mais provocante era toda a aparência das mulheres; cheias de impudência, apareciam com a cabeça descoberta diante dos espectadores e, trajadas de modo afetado e provocador, caminhavam fazendo rebolar os seus corpos. O rosto delas era delineado pelo sublinhamento dos olhos e tratado com aplicação de pó de beleza nas faces. Com voz ágil e melíflua, reproduziam canções pornográficas. Em piscinas especiais dentro dos teatros, nadavam inteiramente nuas sob os olhares cobiçosos e embriagados dos espectadores. Os temas das apresentações giravam em torno principalmente da ridicularização do sacro mistério do casamento.

Sobre camas colocadas em cena tinham lugar as mais realistas situações de pornografia e adultério. Todos eles, tanto os espetáculos quanto as canções, remetiam aos amores ilegais e aos suicídios por desespero amoroso: “com efeito, adultérios, de um lado, roubos de casamento, de outro, mulheres prostituídas, homens servindo de cortesãs, jovens femininamente delicados, tudo cheio de infrações, tudo repleto de monstruosidades, de infâmia”, observa ele em outro lugar 5.A mesma temática tinham também as celebrações tradicionais por ocasião da cerimônia do casamento, as quais minuciosamente conservou Crisóstomo. A noiva, acompanhada de parentes e amigos, percorria em cortejo até a praça do fórum. O cortejo acontecia em ‘alta noite’; utilizavam-se, por isso, grandes candeias para verem as comemorações mesmo os que se encontravam em casa, os quais, muitas vezes estando dormindo, acordavam com barulhos, gritos e sons de flautas. Iam à frente do cortejo mimos, representando comédias obscenas com conteúdo concernente a casamento.

Todos os participantes, em festim e em estado de grande embriaguez, proferiam canções que se referiam a amores disparatados, uniões ilegais e divórcios. E eles concorriam no sentido de quem iria exprimir as mais picantes obscenidades. A noiva, que algumas vezes dançava, acompanhavam-na as mocinhas, as quais achavam a ocasião adequada para se desvencilhar do pudor e participar das canções e das obscenidades 6 Manifestações comemorativas tinham lugar também no início do ano, durante a festa de celebração das Calendas. Essas tinham por fim criar uma atmosfera de júbilo, pois se apoiavam num ímpio entendimento, segundo o qual “se na lua nova desse mês com prazer e animação levassem tudo a bom termo, também durante todo esse ano haveriam de ficar em tal estado”. Diversões que duravam toda a noite, troças, zombarias e grande consumo de vinho constituíam as marcas características da festa. Além do mais, a cidade adquiria um aspecto alegre e luxuoso, pois as lojas na ágora eram ornamentadas artisticamente e os vendedores expunham seus artigos comerciais, “com exposição dos trabalhos próprios, feitos nas oficinas de cada um que, desse modo, disputava para superar o concorrente”7.O hipódromo, também pelas celebrações aí feitas dos concursosβ de competição de cavalos, constituía um poderosíssimo pólo de atração dos aficcionados por espetáculos.

Durante a realização dos concursos, como informa o santo Padre, a praça pública e as casas se esvaziavam, e a cidade inteira se transferia para o hipódromo. Em razão da afluência das pessoas, o local do hipódromo habitualmente não era suficiente; por isso, os espectadores se apropriavam das casas em torno do hipódromo, dos terraços e dos quartos de tais casas, assim como também de outros locais, colinas e ravinas, que oferecessem possibilidade de visão. E esta mania pelas competições, nenhum obstáculo podia refrear: nem a pobreza, nem o trabalho, nem a doença, nem a idade. Velhos, desonrando suas cãs, apressavam-se com mais empolgação que os jovens. Fortes pancadas de chuva, frio lancinante, fortes ventanias ou o sol lançando quentíssimos raios sobre as cabeças, e mesmo o acotovelamento pela afluência popular, nada disso afetava a disposição dos espectadores. Ao contrário, como observa com ironia e graça Crisóstomo: “e o sol recebendo na cabeça descoberta, caminhando, empurrando-se e comprimindo-se com muito afã, e outras milhares de adversidades sofrendo, como se estivessem suntuosamente num prado, assim se estabeleciam num lugar 8.

Impactante é a apresentação do comportamento e das reações dos espectadores, tanto durante quanto após as competições. As altercações e o proferimento de coisas dizíveis e indizíveis eram muito habituais. Os espectadores adversários quanto às preferências cobriam uns aos outros de zombarias e insultos, exaltando os ânimos e criando uma atmosfera de combate. Comenta ele acerca do estado alucinado (báquico) dos espectadores, de tal modo que a gritaria, o barulho e as aclamações enchiam a cidade inteira; ele mesmo isso escutava com aflição de sua casa. Depois do término das competições, alguns, da ala dos que pertenciam à casta dos vencedores, desciam do hipódromo ridículos no aspecto, saltitando e pulando, enquanto os outros, os perdedores, com o corpo curvado para baixo, tinham estampada nos rostos a expressão do sofrimento da derrota 9.Muitas vezes, acontecia de este divertimento ser complementado com sangue. Cita Crisóstomo um incidente, segundo o qual a pessoa encarregada da função de manutenção da ordem nos concursos, enquanto estava para celebrar sua bodas, que seria no dia seguinte, foi encontrada no meio de dois cavalos concorrentes, com a cabeça e as extremidades do corpo cortadas. Os ferimentos dos participantes nas competições também eram um fato corriqueiro. Muito sangue era derramado no hipódromo por ocasião das celebrações do combate das feras, durante as quais se colocavam para se enfrentarem, seja fera contra homens, seja fera contra fera 10.

Desta breve descrição do modo de divertimento das pessoas da época de Crisóstomo torna-se clara a semelhança com o modo de divertimento do homem contemporâneo, com exceção das supervenientes transformações nesse ínterim, em razão do aparecimento de novas formas de diversão e declínio de outras, mas também em razão do aperfeiçoamento e da evolução técnica de determinadas representantes das antigas formas.

Geralmente todas as manifestações em questão no que diz respeito aos elementos, pelos quais foram censuradas por Crisóstomo, revelam não simplesmente semelhança, mas o seu reforço e exacerbação, de modo que as razões da perspectiva ética cristã, com as quais o santo Padre apóia a condenação delas, continuam a valer ainda mais hoje.

2. Razões da condenação do divertimento mundano

2.1 – O prejuízo moral das influências erradas Foi formulada a opinião de que a posição negativa frente ao teatro da Antigüidade cristã se devia principalmente a razões religiosas; o palco constituía, no início, uma instituição religiosa, onde se ensinavam os princípios da religião pagã, os dogmas, por assim dizer, da teologia nacional. Por isso, também as regras arcaicas concernentes ao palco e aos envolvidos na cena que têm um sentido apenas histórico e particular para sua época caíram em desuso e, conseqüentemente, deixaram de valer11. Contraargumentou-se, contudo, corretamente que o fundamento das regras proibindo o deslocamento para os teatros é, principalmente, de ordem ética e, por conseguinte, as regras, constituindo expressão do ensino moral da Igreja, continuam sempre a valer 12.

O dano moral do homem afetado pelas várias atividades diversionais, designa-o Crisóstomo como razão básica de sua polêmica contra elas13. Profundo conhecedor e excelente analista da personalidade humana, avança ele em observações sobre o efeito pernicioso das variadas competições e espetáculos, quais observações, dado o baixo nível moral dos meios contemporâneos de divertimento, são atuais e muito interessantes.

Admite ele que a arte de provocar o riso constitui descoberta do Diabo, o qual edifica teatros nas cidades e exercita na arte da simulação dramática os comediantes, para que, através deles, como instrumentos, possa transmitir a contaminação moral a toda a cidade. Nomeia, por isso, freqüentemente o hipódromo, os teatros e as demais festas mundanas como manifestação e propagação do demônio, fornalha caótica acesa pelo Diabo, vigílias diabólicas. Tudo isso se insere na concepção mais geral da relação do Diabo com os prazeres e deleites humanos, segundo a qual eles constituem o envoltório que esconde a armadilha por ele colocada do pecado e da morte 14.

A freqüência aos teatros e o aspecto das mulheres que apareciam ali caracteriza Crisóstomo como “constituindo adultério”. Esta designação é grave e, por isso,  empenha-se ele em justificá-la. Evoca, em primeiro lugar, as palavras do Senhor, segundo as quais aquele que contempla uma mulher com desejo pecaminoso já cometeu o adultério. De acordo com a ética evangélica, o adultério não se restringe à conjunção e comunicação dos corpos, mas estende-se também ao ver desejosa e insaciavelmente, pois isto constitui a fonte do adultério. A severidade do Evangelho em questão justifica-se pondo em evidência, por um lado, “o que há de ardiloso e complexo na ação perversa do Diabo” e, por outro, “o caráter facilmente influenciável da nossa natureza”. É impossível para um homem organicamente saudável não ser influenciado e dominado pelo desejo; a carne humana não é nem pedra nem ferro, porém “mais fácil que a relva pelo desejo é incendiada”. Um casual encontro de uma mulher e um estranho olhar são suficientes para acender o desejo, o qual muitas vezes até no mais sagrado ambiente, a igreja, penetra furtivamente. Muito mais ardente é aquele no teatro, onde todas as coisas, falas obscenas, trajes, canções pornográficas, movimentos, melodias de instrumentos musicais, constituem um incitamento para a indecência e a lascívia. É assediado o espectador por todas as sensações; a firmeza da mente é totalmente amolecida e torna-se, assim, vulnerável às insídias das prostitutas. Conjecturando, por isso, o Padre sobre o funesto efeito das mulheres mostradas nuas nas águas da piscina, por meio de uma imagem representativa, diz que se fosse possível vermos as almas dos espectadores, mortas as veríamos a flutuar nas águas da piscina, assim como flutuavam os corpos dos egípcios no mar por ocasião do afundamento das tropas do Faraó 15.

O efeito danoso do teatro continua mesmo depois da saída do local. O espectador parte dali tendo guardados na mente dele a imagem da mulher prostituta, os giros dos olhos, as circunvoluções dos pés, as imagens mostrando o torneamento do corpo, o som da voz recebido nos ouvidos, a forma, o olhar, os movimentos e toda a imagética do mundo da prostituição. Tais coisas impressas profundamente retornam à mente e dela se apoderam, mesmo depois de um longo decurso de tempo, logo que um estímulo é recebido na memória. As canções que são cantadas no teatro são repetidas continuamente sobretudo pelos mais jovens, enquanto os velhos recordam com exatidão e repetem todos os obscenos diálogos ali trocados. A suntuosidade na ornamentação da cena e a veste dos atores tornam-se padrões para a ornamentação das casas e para as vestes das mulheres; e contra isso, com freqüência, volta-se Crisóstomo com rigor 16.

Até a assistência às competições do hipódromo, mesmo que aparente, à primeira vista, uma inocente recreação, encerra todavia perigos morais, não só porque os apaixonados torcedores proferem blasfêmias e falas despropositadas, mas também porque as peças teatrais intercaladas entre os concursos, realizadas por mulheres prostitutas e homens efeminados, acarretam um enorme dano moral. Além do mais, a visão de selvagens combates de feras, onde homens são dilacerados e onde se derrama abundante sangue, contribui para o cultivo de propensões espirituais ligadas à crueldade e à bestialidade 17.

O fascínio e os encantos do teatro e do hipódromo recebidos de maneira absoluta na consciência, em concurso com as pecaminosas inclinações do homem, impelem-no ao menosprezo dos nobres valores e ideais, os quais aparentam assim desagradáveis e enfadonhos.

O matrimônio, em primeiro lugar, e a família são ameaçados por tal inversão de valores: porque, como muito bem diz ele, “uma vez que, por ela (pela prostituta) fique fascinado, dela ausente tornando-se cativo, tanto sua mulher lhe parece mais desagradável, quanto as crianças mais aborrecidas, e os familiares odiosos, fútil torna-se a casa, e os cuidados do quotidiano parecem incomodar... e cada um se mostra fastidioso e repulsivo”. A prudente e honesta companheira de vida é desprezada e desvalorizada, e tudo concernente ao lar é abandonado. E uma vez que o cônjuge, aliciado pela sedutora prostituta, envergonha-se de revelar a causa de sua afecção e mudança, cria, propositadamente, problemas, a fim de justificar a sua repulsa para com a cônjuge e a família. Considera, por isso, Crisóstomo o teatro como o mais perigoso inimigo do casamento e como mestre do adultério 18.

A responsabilidade ética pelas coisas realizadas nos teatros e no hipódromo recai não só nos organizadores, mas, sobretudo, naqueles que com zelo e ânimo assistem a eles. O sedutor, o garoto que se prostitui, a mulher prostituta, todos jogam a culpa sobre os espectadores, pois “se não existissem os que vêem, não existiriam os que dessas coisas participam” 19.

2.1. Gasto inútil do precioso tempo para a salvação - efeito danoso sobre a liturgia

O elemento característico do tratamento cristão dado à diversão, como esse se enuncia tanto no Novo Testamento, quanto na tradição patrística, não se encontra na avaliação do divertimento sob a ótica do proveito ou do prejuízo moral, pois semelhante consideração existe tanto no helenismo quanto no judaísmo. Está mais relacionado, por um lado, ao tratamento próprio do cristianismo acerca do tempo, como tempo de salvação, como ‘ocasião’ determinada e calculada para a obtenção da salvação e, por outro lado, com o importantíssimo papel que no plano da economia divina e na vida moral representam o sofrimento, a tristeza, a Cruz. Estes dois elementos, constituindo as características essenciais da vida cristã, de modo algum são levados em conta pelos que tratam do tema do divertimento, segundo o ponto de vista cristão.

Constitui linha diretiva de todo o pensamento de Crisóstomo a sua fé com fundamentação neotestamentária de que a presente vida constitui ‘um tempo oportuno’ (kairón), ou seja, um tempo dado por Deus para a obtenção de determinados objetivos. Para dentro deste tempo o homem é chamado, restringindo ao mínimo as coisas inúteis, no intuito de alcançar “muitas das que são urgentes”. Tanto naquele tempo, quanto hoje, era apresentada a justificativa de que a assistência às competições do hipódromo, mas também às apresentações teatrais, era simplesmente um agradável espetáculo, não ocasionando nenhum prejuízo moral. Crisóstomo, além de, como vimos, mostrar o dano moral, declara que a proibição disso apóia-se no fato de que tais coisas constituem “dispêndio de tempo e gasto inútil de dias”. A vida terrena constitui oportunidade dada por Deus não para a assistência à arte do teatro, dos hipódromos, dos dançarinos e dos mimos, nem para um dispendioso gasto em inúteis relacionamentos e agrupamentos, em simpósios e jogos de dados, mas para a aprendizagem profunda da técnica da devoção (arte da veneração). Dado que tem sido concedido pouco tempo para isso, não deve o homem gastá-lo vã e inopinadamente, porém “mais do que tudo deve considerar com respeito senão o tempo”. Deus vai exigir a razão do modo de se gastar o tempo. A inútil perda de tempo perturba a função harmônica do plano da economia divina. Consoante a isso, enquanto a ordem e curso cósmicos têm em vista, no comando das rédeas do tempo universal por Deus, o serviço devocional do homem, este último, determinando a si mesmo e afastando-se de Deus, utiliza o seu tempo oportuno para a execução dos desejos do Diabo 20.

Recomenda ele, por isso, para melhor uso do tempo, que reflitamos todo dia que vai ser necessário à noite, durante a comunicação com Deus pela oração, “prestar contas do dia inteiro ao Soberano... se vã e ao acaso despendemos esse tempo decisivo e se em nada necessário”21.

O tempo de salvação distingue-se, por isso, do tempo mundano por um sentido moral, do tempo cujo cumprimento considera-se a vida no pecado, no prazer e no deleite. Mas, dessa perspectiva, o que vive de forma cristã se encontra fora do tempo em questão, enquanto está morto para os negócios da vida presente. Misteriosamente, vive este o verdadeiro tempo, a sua vida “se encobre junto com o Cristo em Deus”, devendo ser revelada no tempo oportuno 22.

A vida litúrgica da Igreja deve absorver grande parte do tempo. Contudo, por causa da atração que exercem as manifestações mundanas de divertimento, ocorre que a participação nas atividades de culto fique em plano inferior ou mesmo que seja descuidada completamente. A Igreja parece, assim, desagradável em relação ao encanto e à refulgência do teatro, e o seu ensinamento sobre a decência e a prudência cria aversão e provoca o controle da consciência. Lamenta-se Crisóstomo porque, enquanto acerca do dever em questão de ir à igreja uma vez por semana, muito numerosos são os pretextos apresentados: a pobreza, a necessidade de assegurar a alimentação, urgentes ocupações, a fadiga do acompanhamento do culto; em relação, ao contrário, aos teatros e aos hipódromos, “ninguém é hesitante, nenhum se afasta, ninguém que pretexta ocupação nos negócios, mas, como soldados de armamento ligeiro e livres de qualquer cuidado, assim correm todos; não tem respeito o velho por suas cãs, não trata o jovem com prudência a chama da natureza e do desejo, não considera o rico o fato de envergonhar a sua posição”. Abandonava-se, por isso, a igreja quando coincidia de haver apresentação teatral ou competição no hipódromo; e todos acorriam para a assistência a eles, ainda que fosse no dia de sexta-feira, durante o qual, pelo sacrifício do Deus feito homem, tudo era reformulado e requeria, assim, em vista disso, jejum, ação de graças e bênçãos da eucaristia 23.

Além do abandono da igreja, o prejuízo se estendia pela introdução nela de modos e hábitos de comportamento que eram peculiares ao teatro. Reclama o santo Padre pelo hábito de os fiéis baterem palmas durante a sua homilia e de aclamarem ruidosamente o que foi dito; o objetivo de suas homilias, contudo, não era para divertir, mas tinha caráter pastoral. As celebrações no culto eram encaradas por determinados fiéis como um espetáculo costumeiro; por isso, mesmo durante as missas, eles se comportavam indisciplinadamente, “rindo, gargalhando, conversando, escarnecendo uns dos outros postos de joelhos”. Isso se devia ao fato de que, antes de estar consolidado o trabalho educativo da Igreja, antes de ser concluída a edificação, isso era demolido pela pedagogia perniciosa do teatro, o qual como lama passava muita porcaria aos fiéis, pelos costumes, pelos gestos, pelas palavras, pelo riso, pela indolência; transpostas tais coisas para o recinto da igreja, elas impediam o trabalho de purificação das almas. Em outra parte, ele fala acerca do costume de os fiéis exteriorizarem os seus sentimentos devocionais com movimentos teatrais das mãos e dos pés e com gritos inconcebíveis e inopinados. O fato de observar minuciosa e atentamente na igreja as belezas das mulheres atribui também Crisóstomo à influência do teatro. Isso constitui também a causa da delimitação feita pelos Padres, como ele alega, de um lugar particular no templo reservado às mulheres, separado da outra parte por tábuas. Até mesmo o modo burlesco, a ridicularização das pessoas, dos costumes tradicionais, dos eventos, marca característica dos comediantes no palco e dos mimos, tinha sido introduzida na igreja; e era utilizada até mesmo sobre passagens da Sagrada Escritura, as quais sendo alteradas em determinadas palavras, delas mudavam o sentido para um tom burlesco e risível 24.

2.2. Impedimento da benéfica função do sofrimento e das tristezas

Crendo e ensinando Crisóstomo que o sofrimento e as tristezas constituem um benefício de Deus para o homem, o qual fracassou, no conforto e na bem-aventurança do paraíso, em conseguir a sua salvação, e que, além do mais, tais coisas constituem marca característica da vida virtuosa e armas de defesa frente ao mal na marcha do homem e face às maquinações do Diabo, não admite ele nenhuma alegria e diversão mundanas. Estas impedem a benéfica função da dor e facilita o desregramento, a luxúria, a vitória do Diabo.

A compunção é incompatível com a luxúria: uma derroga a outra. É, por isso, impossível a convivência delas. A incompatibilidade também aparece do lado de seus frutos. A primeira é mãe das lágrimas. A outra do riso e da exacerbação. Por isso, também o Novo Testamento, convidando o homem para novo combate, proíbe até mesmo o riso: “e isto, o rir, muito tem do inferno, mas é louvável em qualquer lugar o mortificar-se e o entristecer-se”. As lágrimas da compunção constituem imitação do Cristo, o qual muitas vezes os evangelistas mostram chorando; nunca comentam, porém, não somente sobre o riso, mas nem sobre um tranqüilo sorriso dele. E isto vale tanto acerca de Paulo, o qual de modo algum é mostrado rindo, quanto acerca de todos os santos, distintivo dos quais é, entre outras coisas, o luto, o lamento, a tristeza 26.

O riso e a efusividade caracterizam não os cristãos, mas aqueles sobre o palco, as prostitutas, os homens efeminados, os aduladores, todos quantos servem o Diabo. Além do mais, a arte de provocar o riso seria invenção do Diabo, o qual, através do riso, ambiciona como que “relaxar os soldados de Cristo e tornar mais fracas as forças de seu ânimo”. A contínua batalha contra ele não deixa margem de tempo para o riso e o gracejo, mas requer intensificação das forças morais, sua permanente vigilância. É prova de uma tática bélica muito ruim o fato de que, enquanto aquele age e trama de tudo para arrebatar o homem do convívio de Deus e para o submeter de novo à sua tirania, este se dedica aos gracejos, aos risos, às parvoíces e à imitação dos dançarinos. Uma olhada nos rostos desses que são escalados para a guerra é suficiente para mostrar o que existe de errado nesta tática de guerra contra o Diabo; eles têm o semblante carrancudo e contraído, com a sobrancelha terrificante e cheia de horror, o olhar severo; o coração deles está agitado, sobressaltado e alterado, e toda a mente concentrada, tremendo de temor e de angústia. O mesmo deve valer também para o esforço de perfeição espiritual do homem, o qual constitui ocasião de guerra e combate, de vigília e guarda, do empunhar das armas e da arregimentação, e não de riso. Além do que, isto constitui marca distintiva do mundo segundo as palavras do Cristo, “o mundo se alegrará, enquanto vós lamentareis”. E no mais avançado estágio da marcha para o céu, no meio de um estreito e triste caminho, jamais deve ficar indolente o fiel e relaxar a tensão, pois é nesse momento que ataca mais fortemente o Diabo, como fazem os piratas experientes: atacam o navio não durante o início da viagem comercial, mas pelo fim, quando este retorna carregado de tesouros ao porto de sua destinação final 27.

Rebate ele, por isso, os que apresentam o parecer de que o riso é algo eticamente indiferente e de que não deve ser proibido. Não permanece na distinção estóica das ações em boas, más e indiferentes, mas considera também as ações indiferentes como eticamente reprováveis, como não indiferentes, mas como ruins, porque contribuem para o aparecimento e o desdobramento de outras más e não se conciliam com o ideal cristão acerca da virtude e da santidade. O riso é proibido porque a indecência, o burlesco, a prostituição, as ofensas, as disputas, os assassinatos, todos têm muitas vezes a sua raiz nele. Por outro lado, o santo não tem nenhuma relação com o burlesco, mas é calmo, doce, tristonho: utiliza sua boca para render graças a Deus e para outras liturgias próprias a um cristão 28.

A incompatibilidade da virtude com as diversas manifestações da diversão mundana, desenvolve-a Crisóstomo extensamente, por muitos e freqüentemente repetidos argumentos em muitas de suas obras, de tal modo que é possível encontrar nele um discurso acerca da existência de uma filo própria do lutuoso. Partindo da passagem do Eclesiastes “bom é dirigir-se a casa com aspecto lutuoso do que dirigir-se a casa com riso”, apresenta com a sua conhecida clareza e penetração os efeitos benéficos do lutuoso sobre a alma, por um lado, e, por outro, a alucinação báquica do homem nos simpósios e nos teatros, por causa do grande descomedimento. Tem a coragem, por isso, de sustentar que é preferível passar a vida nos cárceres do que freqüentar os teatros. E evoca da história da Igreja o período das perseguições contra os cristãos, quando as atribulações contribuíram para eles se tornarem mais provados na fé e mais escrupulosos na vida. Faz referência também à fidelidade dos judeus durante o tempo das privações e das aflições, e a falta de fé deles no tempo do bem-estar luxuoso e sensual e da comodidade, como também evoca a vida repleta de combates dos varões ilustres do Antigo Testamento 29. O próprio Crisóstomo é uma personalidade sofrida: foi criado pela mãe viúva e por toda a duração de sua vida não amainou, nem por um momento, a bandeira da verdade. A sua franqueza na censura mesmo dos reis custou-lhe muitas atribulações: o ciclo de sua vida terrena se encerrou como exilado no Ponto.

A nova existência do homem na Igreja exige na prática uma conformação do fiel para com as doridas paixões, a Cruz e a morte do Cristo. As sofridas paixões e as tristezas constituem elemento certificativo de que a participação sacramental pelo Batismo na Cruz e na morte do Cristo não ficou um simples simbolismo, mas que se converteu numa efetiva correspondência para com o Cristo, no seu ajustamento “segundo a imagem de Cristo”. O sofrimento, além do mais, está inseparavelmente ligado à vida presente. Foi admitido por Deus “a fim de que, impelidos aqui pela tristeza, tomemos desejo pelas coisas futuras. A vida cômoda e sem atribulações conduz ao apego à época presente. Ao contrário, os jejuns, as vigílias, a dieta alimentar, o corte dos prazeres, a penosa vida da virtude, o estreito e tristonho caminho, alimentam o desejo das coisas futuras e da libertação das penas, criam aversão à época presente, assim repleta de tristezas, e vinculam o fiel ao amor das coisas futuras 30.

Terminando este assunto acerca da condenação da diversão mundana, é preciso observarmos conclusivamente o seguinte:

1. Crisóstomo não condena o divertimento de sua época por razões unicamente doutrinárias, ou seja, em razão de que ela serve à religião pagã, como aceitou Papamikhail em relação à posição da Igreja na Antigüidade frente ao teatro 31.

2. Acentua ele o máximo prejuízo moral que a diversão acarreta, especialmente pela apresentação de espetáculos imorais e cruéis. Mas o prejuízo moral constitui poderosa razão de uma perspectiva negativa face ao divertimento mundano em toda época, em razão da validade perpétua dos princípios morais. Isto corretamente enfatizou Androutsos, contrapondo-se a Papamikhail e Balanon, o qual sustentou que o prazer é permitido segundo a visão cristã, com a condição de não ferir a moral e os bons costumes 32.

3. Não obstante, além da condenação do teatro pela perspectiva do prejuízo moral, com base no qual é permitido alguém gastar muito ou todo o tempo no prazer, Crisóstomo fundamenta também sobre outras razões mais seriamente teológicas a condenação dos modos habituais da diversão mundana, os quais, de nenhuma maneira, são levados em conta pelos especialistas sobre tal tema. Estas são a perda do pouquíssimo tempo calculado por Deus para a salvação das almas e o impedimento da benéfica função do sofrimento, a qual ajuda no combate contra o Diabo e contra as paixões, efetivamente os torna participantes dos sofrimentos de Cristo e reforça o anseio pela vida futura sem atribulações 33.

2.3. O divertimento cristão

Os que apóiam a perspectiva de que a Igreja por razões históricas foi forçada a tomar uma posição negativa frente ao teatro e demais manifestações, observam que a mesma interdição em nossos dias iria mostrar a Igreja como estranha à cultura e à vida social, como não mais passível de compreender o ritmo vibrante e os problemas do homem quotidiano. E, por fim, isto teria como conseqüência a perda da oportunidade de suspender o dualismo entre Igreja e cultura laica, no sentido de serem transmitidos os princípios cristãos em todas as manifestações culturais. A negação absoluta dos procedimentos em questão mostra falta de percepção da realidade, uma vez que o teatro como manifestação de arte, como música, como vida, como belo, de toda maneira sempre vai existir, porque assim o requer a sociedade como tal 34.

A mesma antítese justamente também havia na posição de Crisóstomo acerca da diversão. Era ele acusado, porque, por sua tentativa de abolir o teatro, construía uma via para a reversão da civilização; porque ignorava o caráter próprio da Igreja como comunidade no mundo e pretendesse transformá-la em monastério; porque condenava os cristãos a uma vida cheia de lamentos e lágrimas, enfadonha em razão da falta de variedade.

Respondendo a essas questões, Crisóstomo observa que, ao contrário, a perturbação e a reversão da civilização devem-se à funesta influência do teatro. Considerava, por isso, grande benefício para Antioquia o fato de o Imperador ter abolido os teatros e os hipódromos, pois assim ficavam soterradas as fontes do pecado. A conservação de um costume não depende de que ele esteja consolidado socialmente 35, mas de sua relação com os ideais éticos 36. Na direção da supressão, e não do saneamento, voltava-se, de resto também o seu próprio combate anti-teatral 37.

Põe como exceção a moderada e honesta vida dos habitantes do campo, onde não existem teatros e hipódromos, as prostitutas e a agitação da cidade38, como também a vida dos monges, os quais, longe de todas as manifestações mundanas, têm resolvido de maneira perfeita o problema do divertimento na comunidade deles 39. Não pretende ele transformar a sociedade em monastério, no sentido de uma fuga local restrita do mundo para o deserto, mas no sentido da consolidação na sociedade do modo de vida monástico. A fuga para os desertos deve-se ao fato de que existe no mundo o reforço e o aumento da maldade, do poder tirânico de Diabo sobre todas as manifestações da vida das cidades, de tal modo que estas se tornaram solo “inacessível e inapto para a filo”. Faz votos, por isso, Crisóstomo para a comunidade cristã ser conduzida a um tal nível de perfeição moral “de modo a que não apenas não haja necessidade aos habitantes da cidade alcançarem as montanhas, mas também que possam reconduzir os habitantes dos desertos, refugiados a um longo tempo, para sua cidade de origem”. Para a realização desse voto, tinha em vista a sua austera posição frente aos homens e às suas atividades e manifestações 40.

Não constitui, de qualquer forma, este voto prefácio de uma concepção pessimista acerca da vida e da cultura, mas fundamentação, sobre bases seguras e fortes, da nova existência do homem em Cristo, de tal modo que a alegria não esteja correlacionada com as variadas transformações da vida, nem que esteja envolvida com a tristeza, mas que permaneça firme e pura 41.

Não é inimigo de toda diversão e prazer Crisóstomo. Aos que lhe atribuem demasiado fanatismo ascético responde: “com efeito, não impeço alguém de casar, não o obsto a sentir prazer; mas desejo que isso ocorra com ponderação, não com indecência, acusações e muitíssimas infrações. Não faço leis para que se tomem as montanhas e os desertos, mas para que alguém seja tanto honesto quanto prudente”42. O divertir-se, contudo, com moderação e probidade não deve ser entendido aqui segundo a compreensão genérica da ética mundana acerca da virtude, segundo a qual qualquer coisa que não vai contra as regras morais e da conveniência geralmente aceitas é permitida. Incontestavelmente as tragédias gregas clássicas 43 constituem grandiosos e sublimes feitos do espírito humano, expressando, de modo genuíno, a vida espiritual e moral de sua época, contrariamente aos numerosos produtos contemporâneos das Belas Artes, os quais, em sua maioria, nada de autêntico possuem, mas servem a objetivos econômicos, políticos e outros vários. O Cristianismo introduziu um novo modo de vida e de existência profundamente escatológico e centrado em Cristo. É, por isso, que não há justificativa para o cristão, o qual, depois da inserção na nova vida, continua a procurar o prazer e a satisfação em fontes de que se abastecem também os que se acham fora da Igreja 44.

A alegria constitui, é claro, anseio e expectativa do Cristianismo. Não, porém, a alegria mundana sem relação com o Cristo e a Igreja. O apóstolo Paulo, concebendo a alegria, não falou sobre alegria simplesmente, mas acerca da alegria no Senhor, acerca da duradoura alegria que existe mesmo nas tristezas, a qual a união com o Cristo cria 45.

O Cristo e a comunidade unida a ele constitui o novo ideal cristão sobre prazer e deleite, o qual deve predominar sobre a nova e transformada forma de viver, na qual o cristão é introduzido pelo batismo. Revestidos pelo Cristo e alimentados por ele, saciamos toda necessidade da alma, de tal modo que podemos permanecer como que estrangeiros às coisas da vida presente. Esta comunidade com Deus em Cristo constitui um reencontro do bem-estar e do deleite paradisíacos, de que desfrutavam os primeiros seres criados no paraíso falando com Deus e o contemplando. Um gosto prévio e um sinal da alegria plena e perfeita dos últimos dias. O viver do fiel na virtude, a presença do Cristo emtodas as manifestações da vida e,  particularmente, a comunidade unida a ele pelos sacramentos e o gozo na espera dos bens futuros transformam todos os dias e todos os momentos em festa e celebração, de tal modo que resulta supérfluo e prova de imaturidade espiritual a determinação de dias e modos especiais para se desfrutar de prazeres e deleites artificiais 46.

A esta atmosfera totalmente festiva da nova vida, onde a presença da divindade fornece o tom especial, nenhuma manifestação humana é admissível permanecer estranha. “Nada por acaso, nem simplesmente acontece” exorta Crisóstomo com base no dito Paulino: “se, com efeito, comeis, se bebeis, se fazeis algo, fazei tudo em glória de Deus”. E enumera ele, em conseqüência, analisando cada um separadamente, muitos aspectos da atividade humana no dia-a-dia, desde a ação de calçar-se, a de vestir-se e de cortar o cabelo até mesmo a simples saída para a praça pública e as conversações amigáveis, para concluir que o tempo disposto para elas deve, de qualquer forma, render num “ganho pertinente a Deus”47.

Dentro deste clima é possível encontrar variados modos de diversão. O tédio e o fastio, os quais tenta o homem suprimir pelo divertimento mundano são provas da fraqueza espiritual, de prejuízo na parte da alma dos que buscam valores espirituais. O que está espiritualmente em combate jamais sente fastio e aborrecimento, pois os combates espirituais fornecem sentido à vida. Torna-se a alma, através deles, verdadeira lira do Espírito, nada tendo em comum com a representação fingida dos teatros. Temos aqui um teatro espiritual incomparavelmente superior ao terreno: este tem como espectadores e ouvintes os anjos e quantos entre os homens desejam se tornar anjos.

Trata-se de um estágio em que a competição é mais dramática que a dos jogos olímpicos, em razão da potência do mal e da fraqueza do homem, e infinitamente superior, pois juiz e legislador do concurso é o próprio Deus. É característico do empenho de Crisóstomo orientar o rebanho para a vida espiritual interior, distante da influência das distrações exteriores, conselho o qual dirige aos amigos do hipódromo, para renunciarem à assistência às competições que nele ocorrem e para se voltarem para um outro tipo de competição, o emparelhamento das paixões irracionaisδ em si mesmos 48.

A monotonia é rompida, de resto, pela variedade e pela beleza do mundo. Este não é uma coisa grosseira, artefato sem arte, a serviço somente das necessidades biológicas do homem, mas multifacetada obra de arte da engenhosa sabedoria de Deus, provocando muito o prazer e o deleite 49. Recomenda ele calorosamente, por isso, o retorno à natureza: “Pois, se desejas te divertir, vai a paradisíacos recantos, ao longo de um rio fluindo ou de lagoas, observa sentindo bem os jardins, ouve as cigarras cantando”50. E cita ele um correspondente adágio que então circulava “de filo cheio estando”, segundo o qual os considerados bárbaros “escutando acerca desses teatros ilícitos e de tal prazer indevido, dizem, com efeito, que os romanos, como não tendo filhos e mulheres, assim tais conceberam os prazeres”. E com esta observação mostraram “que nada é mais doce do que mulher e filhos”. Também as amizades sinceras constituem um modo apropriado de divertimento. Não proíbe, por isso, a organização de refeições entre amigos. Ao contrário, recomenda-as, para ficarem sabendo até mesmo os pagãos que também os cristãos sabem se divertir, todavia, com ordem e respeito. Tal recomendação, é claro, é cabível sob a condição de se criar um tal clima, de modo a ser possível que Deus esteja presente à mesa. Exorta ele para que sejam proferidos hinos, votos, salmos, para que sejam convidados os pobres e para que prevaleça, em geral, a boa ordem e a moderação. Enaltece muitas vezes o benefício dos hinos e dos salmos em contraposição ao prejuízo causado pelas canções mundanas. Sustenta, sobretudo, que também a introdução da música no culto constitui uma medida divina, consoante com a natureza do homem, a qual se satisfaz pelo ritmo e pela melodia. A inclinação natural do homem pela música aparece claramente, como ele observa, também pelo fato de que os recém-nascidos, quando choramingam e se impacientam, adormecem com o canto de sua mãe.

Os viajantes também, os agricultores, os marinheiros, as mulheres quando tecem, “ao encorajar pelo canto o empenho nos trabalhos”, apressam-se 51.

Aos que se opõem às exortações do Padre acerca dos lamentos e das lágrimas e perguntam a si mesmos acerca da finalidade vantajosa do riso, observa ele que o riso constitui sim algo que se acha na alma humana, porém, é dado não para rirmos às gargalhadas, mas para expressarmos a nossa alegria ao encontrarmos os amigos e para encorajarmos pelo sorriso os que são tímidos entre os nossos semelhantes 52.

Repetidamente apresenta como o modo mais proveitoso de divertimento a participação nas atividades de culto e nas celebrações religiosas. E confronta a confusão, o atordoamento, as diversas indecências, os insultos, as zombarias, provenientes da diversão humana, com a placidez, o amor, o benefício, que carrega consigo alguém saindo do templo. E como se entristecia ele, quando via se esvaziar a cidade para lotar o hipódromo, assim como se alegrava e pulava e ia até o céu de prazer, quando verificava que a cidade inteira se esvaziava para assistir à recepção de honra às relíquias dos mártires. Como modelo de alternativa de trabalho e de culto, apresenta as comunidades monásticas, onde alegres e satisfeitos os monges, libertos da angústia dos negócios da vida material, antes do sol se levantar, começam repartindo o tempo dia, primeiro para o culto, depois para o trabalho e o estudo da Escritura 53.

Mais de São João Crisóstomo em SOPHIA.

Notas

1. Cf. G. Papamichail, “Igreja e Teatro”, Alexandria, p. 111, s/d.

2. Idem, p. 114. Cf. D. Balánou, Cristianismo e Cena, Atenas, 1925, p. 48.

3. Cf. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 6. Idem, Homilia 7-8. Cf. também “Sobre 1Cor”, Homilia 12,5. Para mais informações sobre o tratamento dado aos atores no governo romano, cf. N. Laskari, História do Teatro Romano, p. 160 ss; aí Crisóstomo é freqüentemente usado como fonte.

4. Cf. “Sobre Efésios”, Homilia 17, 3; “Sobre Mateus”, Homilia 37, 4; “Sobre David e Saul 3, 2”; “Sobre o Arrependimento 6, 1”; “Para os que abandonaram a Assembléia 1”; “Sobre João”, Homilia 58, 5.

5. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 6; “Sobre 2Tessalonicensses, Homilia 5, 4; “Sobre David e Saul 3, 2”; “Sobre o Arrependimento 6, 1. E quando não remetiam ao amor sexual, os temas giravam simplesmente em torno dos casos da vida comum, das dívidas, dos juros, dos empréstimos. Nenhum benefício prestavam, mas, ao contrário, jogavam muita porcaria nos ouvidos. Cf. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 6.

6. “Sobre 1Cor”, Homilia 12, 5; cf. também “Todavia, por causa das prostituições...”

7. “Discurso relativo às Calendas”, 1-2. β N.T.: O termo ‘agon’ é usado às vezes no sentido concreto de combate (físico ou espiritual), mas aqui é utilizado sobretudo no sentido de concurso, torneio ou competição.

8. “Sobre Ana”, Homilia 4, 1; cf. “Sobre Gênesis”, Homilia 6, 2; “Sobre Jô”, Homilia 58, 4.

9. "Sobre Gênesis”, Homilia 6, 2; Homilia 10, em “A colheita numerosa...” 2, PG 63, 516-518; “Sobre as Estátuas” 15, 4; “Sobre Lázaro” 7, 1, PG 48, 1045; “Sobre os que abandonaram a Igreja” 1, PG 56, 263.

10. Cf. Homilia 9, PG 63, 512; “Sobre as Estátuas” 15, 4; “Sobre 1Cor” 12, 5; cf. também N. Laskari, opus cit., p. 103 ss.

11. G. Papamikhail, opus cit, p. 298 ss, 313 ss.

12. Ch. Androutsou, Sistema Moral, Tessalônica ²1964, p. 240. Do mesmo autor, cf. “Clero e Teatro”, em Estudos e Teses, Tessalônica 1964, p. 185.

13. Cf. “Aos que abandonam as assembléias” 4, 2, PG 54, 661: “Com efeito, não me digas homem que prazer tem a visão especulativa, mas se junto ao prazer possui também prejuízo, isso me ensina”.

14. Cf. “Sobre Mateus”, Homilia 6, 7; idem, Homilia 37, 5; “Sobre o Salmo 8, 1”, PG 55, 106; “Sobre David e Saul” 3, 2; “Sobre Lázaro” 7, 1, PG 48, 1046; “Não governam os demônios” 3, 1, PG 49, 263; “Sobre o Arrependimento” 6, 1; “Sobre as Calendas” 1; “Sobre as Estátuas”, 15, 2; “Sobre Gênesis”, Homilia 6, 1.

15. Cf. “Sobre David e Saul” 3, 1; “Aos que abandonaram a Igreja” 2, PG 52, 266; “Sobre o  Arrependimento” 6, 2; “Sobre Gênesis” 6, 2; “Sobre Mateus”, Homilia 37, 5; “Sobre João”, Homilia 18,4; “Sobre Mateus”, Homilia 7, 6 e Homilia 6, 7-8; “Sobre 1Tessal”, Homilia 5, 4.

16. Cf. “Encômio ao mártir Barlaam” 4, PG 50, 682; “Aos que abandonaram a Igreja” 2, PG 56, 267; “Sobre David e Saul” 3, 2; “Sobre João”, Homilia 18, 4; “Sobre os Atos”, Homilia 10, 4.

17. Cf. “Sobre Gênesis”, Homilia 6, 2; “Sobre Lázaro” 7, 1; “Sobre 1Cor” 12, 5: “Educa o povo continuamente a ser sem compaixão e ter um modo cruel e desumano, também o treina a ver homens sendo dilacerados, sangue sendo derramado e uma crueldade bestial em tudo se imiscuindo”.

18. Cf. “Aos que abandonaram a Igreja” 2, PG 56, 267; “Sobre David e Saul” 3, 2; “Sobre Mateus”, Homilia 37, 6.

19. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 7 e Homilia 9, 2, PG 63, 512.

20. Cf. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 7; “Sobre os Atos”, Homilia 42, 4; “Sobre João”, Homilia 58, 5; “Sobre Gênesis”, Homilia 6, 6; “Catequese” 8, 24 em Sources Chrétiennes t. 50, p. 259; “Sobre Ana 4, 1- 2; “Aos que abandonaram...” 2, PG 56, 265 ss.

21. “Catequese” 8, 17 em Sources Chrétiennes t. 50, p. 257; “Catequese” 1, 46, ibidem, p. 132: “E todo o tempo (kairón) do dia distribuamos, esse na prece e na confissão, aquele na leitura e na compunção da alma, e que todo o nosso estudo se torne de tal modo que sejam as nossas escolhas em função de coisas espirituais... Pois, se prestamos contas acerca do discurso indolente, muito mais prestaremos acerca de bobagens indevidas, acerca das escolhas tendentes ao aspecto material da vida”.

22. “Catequese” 7, 21-23, Sources Chrétiennes t. 50, p. 239 ss.

23. Cf. “sobre David e Saul” 3, 2; “Aos que abandonaram a assembléia” 1, PG 51, 66-68; “Sobre Ana” 4, 1; “Sobre Gênesis”, Homilia 6, 2. Ver a especial Homilia de Crisóstomo “Aos que abandonaram a Igreja e desertaram em direção aos hipódromos e aos teatros”, PG 56, 265 ss.

24. “Sobre as Estátuas”, Homilia 2, 4; “Sobre Lázaro” 7, 1; “Sobre Atos” 2, 4; “Sobre Mateus”, Homilia 68, 5; idem, Homilia 73, 3; “Louvor dos que ficaram na Igreja e acerca da boa condução nas Ações de Graças” 2, PG 56, 99 e 102. Mesmo que se envergonhasse de citar para a audiência exemplos de tais passagens, ele, por fim, revela determinadas para que não parecesse mesquinho. Citamos a perícope relativa à 17a. Homilia sobre a passagem aos Efésios: “Encontrou-se alguém, por acaso, ao lado de uma daquelas pessoas que se orgulham pelo conhecimento; sei que vou provocar o riso, mas, não obstante, direi; e um quadro (referente à comida) apresentando, falou: ‘Aproveitai criançada, para que nunca fique a barriga zangada’. E, por seu turno, outros falam: ‘Ai de ti riqueza e daquele que não te possui’. E muitos tais absurdos, esse modo burlesco introduziu, como quando dizem: ‘Até há pouco não existe nascimento?’”. N.T.: No primeiro exemplo, o sentido original seria “Aproveitem da educação com todas as forças”; no segundo, o sentido seria justamente o contrário: “Ai de ti, Riqueza, e daquele que te possui”.

25. Mais informações acerca do sofrimento empregado com função salvífica, cf. ZI IS, “Homem e mundo na economia de Deus segundo São Crisóstomo”, Analecta Vlatadon 9, Tessalônica, 1970, p. 114 ss. E 238 ss.

26. Cf. “Acerca da compunção” 2, 3, PG 47, 417; “Sobre Mateus”, Homilia 6, 6; “Sobre Mateus”, Homilia 6, 5-7 e Discurso 43, PG 63, 878; “Sobre Efésios”, Homilia 17.

27. Cf. “Sobre Mateus” 6, 7; “Sobre Efésios”, Homilia 17; “Sobre o mártir Barlaam” 4, PG 50, 682; “Sobre o ‘vi o senhor’” 3, 2, PG 56, 114; “A Theodoro” 2, 1, PG 47, 310.

28. Cf. “Sobre Efésios” 17; “Sobre as Estátuas” 15, 4.

29. Cf. “Sobre as Estátuas”, Homilia 15, 1; “Sobre Atos”, Homilia 42, 3-4; “Sobre João”, Homilia 60, 5; “Sobre Atos”, Homilia 24, 3; “Sobre Romanos”, Homilia 9; “Sobre Estagira” 2, 6; “Sobre a Providência” 21, 1 em Sources Chrétiennes 79, p. 252 ss.

30. Cf. “sobre as Estátuas”, Homilia 6; “Sobre Atos”, Homilia 42, 3: “As tristezas dilaceram em nós a simpatia pela época presente”. Idem, Homilia 3, 4, PG 63, 477: “Mas, uma vez que muitos são escravos pela carne e possuídos pela tirania das necessidades materiais, como as feras que vivem em covis, com elas prazerosamente se envolvem; a fim de lhes cortar a simpatia com essas coisas, ele as uniu estreitamente aos muitos pesares... para que, mesmo que sentindo o horror pela nuvem desses males, venham a desejar chegar navegando ao porto tranqüilo”. Mais informações acerca da fundamentação eclesiológica e escatológica da pena em Crisóstomo, cf. Th. Zisis, opus cit., p. 238 ss.

31. G. Papamikhail, opus cit., p. 298 ss., 313 ss.

32. Ch. Androutsou, opus cit., p. 185 e 188.

33. Referências bibliográficas adicionais: ANDROUTSOU, Ch. Sistema Moral, Tessalônica 1964; Idem. “Clero e Teatro”.IN: Estudos e Teses, Tessalônica 1964; BALÁNOU, D. Cristianismo e Cena, Atenas, 1925; LASKARI, N. História do Teatro Romano,s/d; PAPAMICHAIL, G. “Igreja e Teatro”, Alexandria, s/d; ZISIS, Theodoros. “Homem e mundo na economia de Deus segundo São Crisóstomo”. IN:Analecta Vlatadon 9, Tessalônica, 1970.

34. Cf. G. Papamikhail, opus cit., p. 295 ss; D. Balanou, opus cit., p. 36.

35. Idem, p. 316 ss.

36. Cf. “Sobre as prostituições” 2, PG 51, 210: “Que não me diga alguém que é costume; onde o pecado ousa aparecer, não te lembres do costume, mas, se suspeitos os eventos, mesmo que sejam antigo costume, elimina-os; mas, se não forem frutos da malícia, mesmo que não sejam costumeiros, introduza-os e planteos bem fundo.”

37. Cf. “Sobre Mateus”, Homilia 7, 7: “E não cessarei até que, abolindo o teatro do diabo, fique purificada a congregação da Igreja.”

38. Cf. “Sobre as Estátuas”, Homilia 19, 1.

39. CF. “Sobre Mateus”, Homilia 68, 3-5.

40. Cf. “Aos que lutam” 1, 7; idem 1, 8.

41. Cf. “Sobre as Estátuas” 18, 2.

42. “Sobre Mateus”, Homilia 7, 7.

43. Referimo-nos a elas, porque freqüentemente a sua assistência é tida como obrigatória, nada tendo de censurável. Cf. D. Balanou, opus cit., p. 26.

44. Cf. “Catequese” 6, 15, Sources Chrétiennes 50, p. 222.

45. Cf. “Filipenses” 4, 4; “Sobre as Estátuas” 18, 2; “Sobre Mateus” 37, 5.

46. Cf. “Catequese” 4, 24; idem 4, 29; “Sobre as Calendas 2-3, PG 48, 955 ss; “Sobre Mateus”, Homilia 68, 3; cf. também PG 63, 473 ss e PG 54, 669 ss.

47. “Sobra as Calendas 3, PG 38, 957 ss, sobretudo 960; cf. “Catequese” 6, 13-14. δ N.T.: Em grego há um jogo de palavras com o vocábulo “alogon”, que pode significar tanto o adjetivo ‘irracionais’ como o substantivo ‘cavalos’.

48. Cf. “Sobre João” 18, 4; idem, Homilia 1, 1; “Sobre 1Cor”, Homilia 12; “Sobre Mateus”, Homilia 37, 7; “Sobre os que abandonaram a Igreja” 1, PG 56, 265.

49. Cf. “Sobre o Arrependimento” 7, 9, Sources Chrétiennes 9, p. 112 ss.

50. “Sobre Mateus”, Homilia 37, 7.

51. “Sobre Romanos”, Homilia 24, 3; “Sobre Colossenses”, Homilia 9; “Sobre Efésios”, Homilia 17; “Sobre o Salmo 41”, PG 55, 156.

52. Cf. PG 63, 878.

53. Cf. PG 54, 661 ss; PG 55, 106; PG 49, 263; PG 56, 264 ss: “Sobre Gênesis” 1, 1; PG 53, 21; PG 63, 470; “Sobre Mateus”, Homilia 37, 7; idem, Homilia 68, 3-5; “Catequese” 1, 46.

Fonte:

SCRIPTA CLASSICA ON-LINE. Literatura, Filo e História na Antigüidade. Número 2. Belo Horizonte, abril de 2006. http://www.geocities.com/scriptaclassicaonline

 

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