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Patrística e Fontes Cristãs Primitivas:
Tradição Apostólica de Santo
Hipólito de Roma (? – c. 235)
Conteúdo
1. Vida
2. Primeira parte: ministérios ordenados e não-ordenados
2.1 - Introdução
2.2 - Escolha e consagração dos bispos
2.3 - Oração Eucarística
2.4 - Bênção do azeite, queijo e azeitonas
2.5 - Ordenação dos presbíteros
2.6 - Ordenação dos diáconos
2.7 - Os confessores
2.8 - As viúvas
2.9 - Os leitores
2.10 - As virgens
2.11 - Os subdiáconos
2.12 - O dom da cura
3. Segunda parte: catecúmenos e liturgias diversas
3.1 - Os novatos
3.2 - Profissões proibidas
3.3 - Os catecúmenos
3.4 - Os batizandos
3.5 - O batismo
3.6 - A confirmação
3.7 - A primeira eucaristia
4. Terceira parte: outros temas e práticas
4.1 - A comunhão dominical
4.2 - O jejum
4.3 - O ágape
4.4 - A lucerna
4.5 - A ceia
4.6 - Frutos oferecidos ao bispo
4.7 - Bênção dos frutos
4.8 - Jejum da páscoa
4.9 - Os diáconos trabalham com o bispo
4.10 - A oração
4.11 - comunhão diária
4.12 - Reunião do clero
4.13 - Os cemitérios
4.14 - A oração - II
4.15 - O sinal da cruz
5. Final
1. Vida:
ipólito, nascido provavelmente
na segunda metade do séc. II, teria sido, conforme o testemunho de alguns
Padres da Igreja, bispo, porém não é possível precisar o lugar de sua sede.
Sabe-se que ele mesmo afirmou ser discípulo de Irineu e foi o último
escritor a se utilizar, em Roma, da língua grega.
Escritor erudito, transmite
seus conhecimentos sem recorrer ou citar as fontes. Na época em que a Igreja
tornou a penitência mais branda para os pecadores, Hipólito desentende-se
com a autoridade máxima da Igreja, isto é, o papa e acaba sendo eleito
antipapa por um pequeno grupo de cristãos moralistas. É exilado pelo
imperador na Sardenha e aí morre em 235, juntamente com o papa Ponciano (que
também fora exilado), com quem se conciliou algum tempo antes, voltando,
assim, ao seio da Igreja.
Muitos obras são atribuídas a
Hipólito, mas a "Tradição Apostólica" foi uma das poucas que restaram e,
talvez, a mais importante, já trata-se da constituição eclesiástica mais
antiga que possuímos.
Entre os diversos destaques
desta obra, assinalamos os seguintes: a existência de ministérios ordenados
(bispos, presbíteros e diáconos) e não ordenados (viúvas, virgens, leitores,
etc.); as profissões incompatíveis com o cristão; o catecumenato fixado em
três anos; o batismo estendido também às crianças; a oração eucarística e os
cuidados devidos ao pão e ao vinho, Corpo e Sangue do Senhor; e a eficácia
da oração na vida do cristão (celebrada várias vezes ao dia), em especial o
sinal da cruz.
2. Primeira parte: ministérios ordenados e não-ordenados
2.1 - Introdução
Já tratamos de forma
conveniente sobre os carismas, esses dons que Deus pôs à disposição dos
homens desde o princípio, conforme Sua vontade, atraindo para Si a imagem
que Dele se afastara. Agora, movidos pelo amor que devemos a todos os
santos, atingimos o ponto máximo da tradição: o que diz respeito às igrejas.
Todos, assim, bem instruídos, devem conservar a tradição que perdura até
hoje e, conhecendo-a através de nossas palavras, devem permanecer
absolutamente firmes, já que o ocorrido recentemente (heresia ou erro) foi
motivado pela ignorância e também pelos ignorantes. Que o Espírito Santo
conceda a graça perfeita àqueles que crêem na verdade ortodoxa, para que
aqueles que lideram a Igreja possam saber como ensinar e preservar tudo de
forma conveniente.
2.2 - Escolha e consagração
dos bispos
Deve ser ordenado bispo aquele
que tenha sido eleito incontestavelmente por todo o povo. Quando for chamado
por seu nome e aceito por todos, reunir-se-ão, no domingo, todo o povo, o
presbitério e os bispos. Então, após o consentimento de todos, os bispos
imporão as mãos sobre ele e o presbitério permanecerá imóvel. Todos
permanecerão em silêncio, orando no coração pela vinda do Espírito Santo. A
seguir, um dos bispos, por consenso geral, imporá as mãos sobre o que está
sendo ordenado e rezará, dizendo: "Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Pai da misericórdia e Deus de todo consolo, que habitas nas alturas e baixas
o olhar para o humilde; tu, que sabes de todas as coisas antes de nascerem;
tu, que deste as leis da tua Igreja pela palavra da graça, elegendo a raça
dos justos de Abraão, desde o princípio, constituindo-os chefes e
sacerdotes; tu, que não deixaste teu santuário sem administração; tu, que
desde o princípio dos séculos, te agradas em ser glorificado por estes que
elegeste, derrama neste momento a força que sai de ti, o Espírito de
liderança que deste ao teu querido Filho, Jesus Cristo, e que Ele concedeu
aos santos apóstolos, de forma que constituíram a tua Igreja por toda a
parte, o teu Templo, para louvor e glória eterna do teu nome. Pai, que
conheces os corações, permita a este teu servo que escolheste para o
episcopado, apascentar o teu rebanho santo, desempenhando o primado do
sacerdócio de forma irrepreensível perante ti, servindo-te noite e dia.
Concede-lhe tornar propícia a tua imagem, incessantemente, oferecendo os
sacrifícios da tua Santa Igreja e, com um espírito de superior sacerdócio,
possuir o dom de perdoar os pecados conforme a tua ordem, distribuir os
cargos [eclesiásticos] segundo o teu preceito, desatar quaisquer laços
conforme o poder que deste aos apóstolos e ser do teu agrado, pela mansidão
e pureza de coração, para que te ofereça um perfume agradável, por teu
Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder e honra, ao Pai, ao
Filho e com o Espírito Santo na Santa Igreja, agora e pelos séculos dos
séculos. Amém".
2.3 - Oração Eucarística
Assim que se tenha tornado
bispo, todos ofereçam-lhe o ósculo da paz, saudando-o por tornar-se digno.
Os diáconos, então, oferecer-lhe-ão o sacrifício e ele, após impor suas mãos
[sobre o sacrifício] dará graças, juntamente com todo o presbitério,
dizendo: "O Senhor esteja convosco". Todos responderão: "E com o teu
espírito". [Dirá:] "Corações ao alto". [Responderão:] "Já os oferecemos ao
Senhor". [Dirá:] "Demos graças ao Senhor". [Responderão:] "Pois é digno e
justo". Em seguida, prosseguirá: "Nós te damos graças, ó Deus, por teu Filho
querido, Jesus Cristo, que nos enviaste nos últimos tempos, [Ele que é
nosso] Salvador e Redentor, porta-voz da tua vontade, teu Verbo inseparável,
por meio de quem fizeste todas as coisas e, por ser do teu agrado, enviaste
do céu ao seio de uma Virgem; aí presente, cresceu e revelou-se teu Filho,
nascido do Espírito Santo e da Virgem. Cumprindo a tua vontade, obtendo para
ti um povo santo, ergueu as mãos enquanto sofria para salvar do sofrimento
todos aqueles que em ti confiaram. Se entregou voluntariamente à Paixão para
destruir a morte, quebrar as cadeias do demônio, esmagar o poder do mal,
iluminar os justos, estabelecer a Lei e trazer à luz a ressurreição. [Ele]
tomou o pão e deu graças a ti, dizendo: 'Tomai e comei: isto é o meu Corpo
que será destruído por vossa causa'. [Depois,] tomou igualmente o cálice e
disse: 'isto é o meu sangue, que será derramado por vossa causa. Quando
fizerdes isto, fá-lo-eis em minha memória'. Por isso, lembramos de sua morte
e ressurreição e oferecemos-te o pão e o cálice, dando-te graças por nos
considerardes dignos de estarmos na tua presença e de te servir. E pedimos:
envie o teu Espírito Santo ao sacrifício da Santa Igreja, reunindo todos os
fiéis que receberem a eucaristia num só rebanho, na plenitude do Espírito
Santo, para fortalecer nossa fé na verdade. Concede que te louvemos e
glorifiquemos, por teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder
e honra, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na tua Santa Igreja, agora
e pelos séculos dos séculos. Amém".
2.4 - Bênção do azeite,
queijo e azeitonas
Se alguém oferecer azeite,
consagre-o como se consagrou o pão e o vinho, não com as mesmas palavras,
mas com o mesmo Espírito. Dê graças, dizendo: "Assim como por este óleo
santificado ungiste reis, sacerdotes e profetas, concede também, ó Deus, a
santidade àqueles que com ele são ungidos e aos que o recebem,
proporcionando consolo aos que o experimentam e saúde aos que dele
necessitam". Do mesmo modo, se alguém oferecer queijo e azeitonas, diga:
"Abençoa este leite coalhado, unindo-nos à tua caridade. Concede, ainda, que
este fruto da oliveira não se afaste da tua doçura por ser um exemplo da
abundância que tiraste da árvore para a vida dos que em ti esperam". E, a
cada bênção, diga: "Gloria a ti, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na
Santa Igreja, agora e pelos séculos dos séculos. Amém".
2.5 - Ordenação dos presbíteros
Ao se ordenar um presbítero, o
bispo (e os demais presbíteros) impõe-lhe as mãos sobre sua cabeça e, como
citamos acima, rezará dizendo: "Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo:
baixa o olhar sobre este teu servo e transmite a ele o Espírito da graça e
do conselho do presbitério, para que ele possa ajudar e governar o teu povo
com o coração puro, da mesma forma como baixaste o olhar sobre o teu povo
escolhido e ordenaste a Moisés que selecionasse anciãos, nos quais
derramaste o Espírito que tinhas dado ao teu servo. E agora, Senhor,
dissipando-nos o Espírito da tua graça, conserva-o eternamente em nós e
torna-nos dignos de te servir com simplicidade de coração e de te louvar por
teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder e honra, ao Pai,
ao Filho e com o Espírito Santo na Santa Igreja, agora e pelos séculos dos
séculos. Amém".
2.6 - Ordenação dos diáconos
Seja o diácono eleito conforme
acima referido e ordenado impondo-lhe as mãos apenas do bispo, como
prescrevemos. Somente o bispo impõe-lhe as mãos porque o diácono não está
sendo ordenado para o sacerdócio, mas apenas para se por à serviço do bispo,
para executar o que este lhe ordenar. Ele não participa do conselho
clerical, mas cuida da administração, informando ao bispo tudo o que for
necessário. Não recebe o Espírito comum do presbitério, do qual participam
os presbíteros, mas o que lhe é confiado pelo poder do bispo, razão pela
qual somente o bispo ordena o diácono. Porém, na ordenação do presbítero,
também os presbíteros imponham as mãos, em virtude do Espírito comum e
semelhante do seu cargo: estes, por terem apenas o poder de receber, mas não
o de comunicar o Espírito, não ordenam os clérigos mas, na ordenação do
presbítero, imponham as mãos enquanto o bispo ordenar. Sobre o diácono, diga
[o bispo]: "Ó Deus, que criaste todas as coisas e as ordenaste pelo Verbo,
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que enviaste para cumprir a tua vontade e
para nos revelar o teu desejo, concede a este servo, que escolheste para
servir a tua Igreja, o Espírito Santo da graça, do cuidado e do trabalho,
para apresentar em santidade, no teu Santuário, o que te for oferecido pelo
herdeiro do sumo sacerdote, para a glória do teu nome, e também para que,
exercendo de forma irrepreensível e de coração puro o seu ministério,
alcance um grau superior para te louvar e glorificar por teu Filho, Jesus
Cristo Nosso Senhor, pelo qual te damos glória, poder e honra, ao Pai, ao
Filho e com o Espírito Santo na Santa Igreja, agora e pelos séculos dos
séculos. Amém".
2.7 -
Os confessores
Não se deve impor as mãos sobre
um confessor candidato ao diaconato ou presbiterato se este já tiver sido
preso por causa do nome do Senhor. Na realidade, a dignidade de presbítero é
igual à honra da sua confissão. Porém, ser-lhe-ão impostas as mãos se for
ordenado bispo. Contudo, se o confessor não tiver sido levado à frente do
magistrado, nem posto a ferros, nem aprisionado, nem condenado a uma outra
pena, mas apenas desprezado por causa do nome do Senhor e castigado de forma
branda, deve-se impor as mãos sobre ele para qualquer função que lhe seja
digno. Que o bispo dê graças, tal como mencionamos. Porém, não é necessário
que, dando graças, se utilize das mesmas palavras que mencionamos, como se o
fizesse de memória; pelo contrário, reze cada um segundo suas
possibilidades. Se alguém tiver capacidade de rezar uma oração mais longa ou
mais solene, melhor; contudo, se outro proferir uma oração mais simples,
deixai-o pois o correto é rezar de acordo com a ortodoxia.
2.8 - As
viúvas
Uma viúva, ao ser instituída,
não é ordenada, mas eleita pela simples inscrição do nome. Se o seu marido
já morreu há muito tempo, seja instituída; contudo, se o seu marido não
morreu há muito tempo, não se confie nela; mas se for velha, seja
experimentada por algum tempo porque, muitas vezes, as paixões envelhecem
com o que as abriga no seu seio. Seja, portanto, a viúva instituída pela
palavra e que se junte às demais. Não serão impostas as mãos sobre ela pois
não oferece o sacrifício, nem exerce a liturgia. A ordenação é para o clero,
por causa da liturgia; a viúva é instituída para a oração, que pertence a
todos.
2.9 - Os
leitores
O leitor é instituído no
momento em que o bispo lhe entrega o Livro. Sobre ele também não são
impostas as mãos.
2.10 -
As virgens
Não serão impostas as mãos
sobre a virgem, pois bastará sua decisão para fazer dela uma virgem.
2.11
- Os subdiáconos
Também não serão impostas as
mãos sobre o subdiácono. Ele será nomeado para seguir o diácono.
2.12
- O dom da cura
Se alguém disser que recebeu o
dom da cura por revelação, não serão impostas as mãos sobre ele: os fatos
demonstrarão se está dizendo a verdade.
3. Segunda parte: catecúmenos e liturgias diversas
3.1 - Os
novatos
Aqueles que são trazidos pela
primeira vez para escutar a Palavra, sejam direcionados aos catequistas,
antes da chegada do povo, e sejam interrogados sobre a razão pela qual
resolveram se aproximar da fé. Aqueles que os trouxerem, dêem testemunho
deles, informando se estão preparados para ouvir a Palavra. Sejam também
interrogados sobre a vida que levam: se possuem esposa, se são escravos...
Se algum deles for escravo de um fiel (=irmão de fé) e o seu senhor
permitir, que escute a Palavra; mas se o seu senhor não der bom testemunho
dele, seja recusado. Se o seu senhor for pagão, seja-lhe ensinado a agradar
seu senhor, para que se evite a blasfêmia. Se um homem possui mulher ou se
uma mulher possui marido, sejam ensinados a se suportarem, o homem com a
mulher e a mulher com o marido. Porém, se um homem não vive com a mulher,
seja ensinado a não fornicar, recebendo a mulher conforme a Lei ou
permanecendo como está. Se alguém estiver possuído pelo demônio, não escute
a Palavra doutrinária enquanto não for purificado.
3.2 - Profissões proibidas
Deve-se interrogar, também, a
respeito dos trabalhos e ocupações exercidos por aqueles que se apresentam
para ser instruídos. Aquele que possui prostíbulo: desista ou seja recusado.
O escultor ou pintor: seja ensinado a não produzir ídolos, isto é, cesse ou
seja recusado. O ator que representa no teatro: cesse ou seja recusado. O
pedagogo: é bom que cesse, ensinando somente se não possuir outra
habilitação. O cocheiro competidor e os que freqüentam espetáculos de luta:
cessem ou sejam recusados. O gladiador, o treinador de gladiadores, o
bestiário e os empresários de lutas gladiatórias: cessem ou sejam recusados.
O sacerdote ou guardião de ídolos: abandone-os ou seja recusado. O soldado
que recebe o poder de matar: não matará ninguém, mesmo se isto lhe for
ordenado, nem prestará juramento. Se não concordar, seja recusado. O que
possui poder de gládio e o magistrado da cidade, que se reveste de púrpura:
renunciem ou sejam recusados. O catecúmeno e o fiel que desejam se tornar
soldados: sejam recusados por desprezarem a Deus. A prostituta, o
pervertido, o homossexual e qualquer outro que pratiquem atos indizíveis:
sejam recusados por serem impuros. O mágico: não deve ser apresentado para o
interrogatório. O feiticeiro, o astrólogo, o adivinho, o intérprete de
sonhos, o charlatão, o ilusionista e o fabricante de amuletos: renunciem ou
sejam recusados. A concubina, se for escrava do amante, se tiver educado os
filhos e se tiver unido apenas a esse homem: pode ouvir a Palavra; caso
contrário, seja recusada. Aquele que possuir uma concubina: renuncie a ele e
receba uma mulher conforme a Lei; se não o quiser, seja recusado. Se
tivermos omitido algo, as próprias ocupações dirão [se são ou não
permitidas], pois todos nós temos o Espírito de Deus.
3.3 -
Os catecúmenos
Os catecúmentos devem escutar a
Palavra por três anos. Se algum deles for dedicado e atencioso, não lhe será
considerado o tempo: somente o seu caráter, e nada mais, será julgado.
Cessando o catequista a instrução, rezarão os catecúmenos em particular,
separados dos fiéis. As mulheres, sejam elas catecúmenas ou fiéis,
permanecerão rezando em particular em qualquer parte da igreja. Ao
concluírem as orações, ainda não darão a paz porque o seu ósculo ainda não
será santo. Os fiéis, porém, saudar-se-ão, reciprocamente: os homens aos
homens e as mulheres às mulheres; os homens não deverão saudar as mulheres.
Estas devem cobrir a cabeça com um manto que não seja feito de linho, pois
este tipo não serve para cobrir [a cabeça]. Após a prece, o catequista
imporá as mãos sobre os catecúmenos, rezará e os dispensará; não importa se
é clérigo ou leigo: aquele que prega a doutrina deve assim agir. Se um
catecúmeno for preso por causa do nome do Senhor, não deve se desesperar: se
sofrer violência e morrer antes de ter recebido o perdão de seus pecados,
será justificado por ter experimentado o batismo em seu sangue.
3.4 -
Os batizandos
Escolhidos aqueles que
receberão o batismo, examinar-se-á suas vidas: se viveram com dignidade
durante o catecumenato, se honraram as viúvas, se visitaram os doentes, se
praticaram apenas boas obras. Ouvirão o Evangelho se aqueles que os
apresentaram testemunharem a seu favor, dizendo que assim agiram. Sejam
impostas as mãos diariamente sobre eles a partir do momento em que foram
separados e sejam, ao mesmo tempo, exorcizados. Aproximando-se o dia do
batismo, o bispo exorcizará cada um deles, para saber se é puro. Se algum
deles não for bom ou puro, será colocado à parte, pois não ouviu a Palavra
com fé, já que não possível que o estranho se oculte para sempre. Sejam os
batizandos instruídos para que se lavem e banhem no quinto dia da semana; se
uma mulher estiver menstruada, será posta à parte e receberá o batismo num
outro dia. Os que receberão o batismo jejuarão na véspera do sábado e, no
sábado, serão todos reunidos num mesmo local designado pelo bispo. Serão
ordenados todos aqueles que rezarem e se ajoelharem; impondo as mãos sobre
eles, o bispo exorcizará todos os espíritos impuros, para que fujam e não
retornem mais. Terminando o exorcismo, soprar-lhe-á em suas faces. Após
marcá-los na fronte, nos ouvidos e narinas com o sinal da cruz, ele ordenará
que se levantem. Então permanecerão vigilantes durante toda a noite:
ler-se-á para eles e também serão instruídos. Os batizandos não devem ter
nada em seu poder, exceto o que trouxeram para a eucaristia. O que se tornou
digno deve participar do sacrifício na mesma hora.
3.5 - O
batismo
Ao cantar do galo, rezar-se-á,
primeiramente, sobre a água. Deve ser água corrente, na fonte ou caindo do
alto, exceto em caso de necessidade; se a dificuldade persistir ou se tratar
de caso de urgência, deve-se usar a água que encontrar. Os batizandos se
despirão e serão batizadas, primeiro, as crianças. Todos os que puderem
falar por si próprios, falem; contudo, os pais ou alguém da família falem
por aqueles que não puderem falar por si mesmos. Depois batizem-se os homens
e, por último, as mulheres (que deverão estar de cabelos soltos e sem os
enfeites de ouro e prata que levaram). Ninguém deve descer às águas portando
objetos estranhos. No instante previsto para o batismo, o bispo renderá
graças sobre o óleo que será posto em um vaso e será chamado de óleo de ação
de graças. Tomará também um outro óleo que exorcizará e será denominado de
óleo de exorcismo. Então o diácono trará o óleo de exorcismo e ficará à
esquerda do presbítero; outro diácono pegará o óleo de ação de graças e
ficará à direita do presbítero. Acolhendo cada um dos que recebem o batismo,
manda renunciar, dizendo: "Renuncia a ti, Satanás, a todo teu serviço e a
todas as tuas obras". Terminada a renúncia de cada um, ungirá com o óleo de
exorcismo, dizendo-lhe: "Afaste-se de ti todo espírito impuro". E irá
entregá-lo nu ao bispo ou ao presbítero que está junto da água, batizando. O
diácono também descerá com ele e, ao chegar à água aquele que será batizado,
aquele que batiza lhe dirá, impondo-lhe as mãos sobre ele: "Crês em Deus Pai
todo-poderoso?". E aquele que é batizado responda: "Creio". Imediatamente,
com a mão pousada sobre a sua cabeça, batize-o uma vez, dizendo a seguir:
"Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Espírito Santo e da Virgem
Maria, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morrendo e sendo sepultado e,
vivo, ressurgiu dos mortos no terceiro dia, subindo aos céus e sentando-se à
direita do Pai, donde julgará os vivos e os mortos?". Quando responder:
"Creio", será batizado pela segunda vez. E dirá mais uma vez: "Crês no
Espírito Santo, na Santa Igreja e na ressurreição da carne?". Responderá o
que está sendo batizado: "Creio", e será batizado pela terceira vez. Depois
de subir da água, será ungido com o óleo santificado pelo presbítero, que
dirá: "Unjo-te com o óleo santo em nome de Jesus Cristo". Após isto, cada um
se enxugará e se vestirá, entrando, a seguir, na igreja.
3.6 -
A confirmação
Impondo as mãos sobre eles, o
bispo fará a invocação, dizendo: "Senhor Deus, que os tornaste dignos de
merecer a remissão dos pecados pelo banho da regeneração, torna-os dignos de
ser repletos do Espírito Santo; lança sobre eles a tua graça para que te
sirvam conforme a tua vontade, pois a ti são a glória, ao Pai, ao Filho e
com o Espírito Santo na Santa Igreja, pelos séculos dos séculos. Amém". Após
isto, derramará o óleo santo nas mãos e dirá, colocando as mãos sobre a sua
cabeça: "Eu te unjo com o óleo santo, no Senhor Pai todo-poderoso e em Jesus
Cristo e no Espírito Santo". Marcando-o na fronte com o sinal da cruz,
oferecer-lhe-á o ósculo, dizendo: "O Senhor esteja contigo". O que foi
marcado responderá: "E com o teu Espírito". Assim deve proceder com cada um.
Em seguida, rezarão com todo o povo, não podendo rezar com os fiéis enquanto
não atingirem tudo isso. Após a oração, oferecerão o ósculo da paz.
3.7 - A primeira eucaristia
Os diáconos oferecerão o
sacrifício ao bispo e este dará graças sobre o pão, como exemplo do Corpo de
Cristo, e sobre o cálice do vinho preparado, para imagem do Sangue que foi
derramado por amor de todos que crêem nele. Fará o mesmo sobre o leite e o
mel misturados, recordando a plenitude da promessa feita aos antepassados;
nessa promessa, Deus anunciou a "terra onde correm leite e mel". Por ela,
Cristo ofereceu a sua Carne e, assim como crianças, se alimentam os que
crêem, tornando suave a amargura do coração pela docilidade da Palavra. Da
mesma maneira, o bispo renderá graças sobre a água do sacrifício, como
representação do batismo, para que o homem interior, isto é, a alma, obtenha
os mesmos dons que o corpo. Todos esses fatos devem ser explicados pelo
bispo a todos que recebem. Partindo o pão e distribuindo-o em pedaços, dirá:
"O Pão Celestial em Jesus Cristo". E o que está recebendo responderá:
"Amém". Se não forem suficientes os presbíteros, peguem os cálices também os
diáconos e, com dignidade, coloquem-se em ordem: primeiro o que segura a
água; em segundo, o que segura o leite; em terceiro, o que segura o vinho.
Os que recebem provem de cada cálice e, aquele que dá, diga três vezes: "Em
Deus Pai todo-poderoso". Responda o que recebe: "Amém". [O que dá:] "E em
Nosso Senhor Jesus Cristo". [O que recebe:] "Amém". [O que dá:] "E no
Espírito Santo e na Santa Igreja". E responda "Amém". Assim se procederá com
cada um. Após a cerimônia, rapidamente pratiquem o bem, agradem a Deus,
vivam corretamente, coloquem-se à disposição da Igreja, praticando o que
aprenderam e progredindo na piedade. Isto, de maneira resumida, vos
transmito sobre o santo batismo e o santo sacrifício, pois já fostes
instruídos sobre a ressurreição da carne e tudo o demais, conforme está
escrito. Se algo deve ser recordado, diga o bispo secretamente aos que
tiverem recebido o batismo, para que os não fiéis não venham a conhecer
antes de também receberem. Esta é a ficha branca aludida por João ao dizer:
"Um novo nome foi escrito nela e ninguém o conhece a não ser aquele que a
receberá".
4. Terceira parte: outros temas e práticas
4.1 - A comunhão dominical
No domingo pela manhã, o bispo
distribuirá a comunhão, se puder, a todo o povo com as próprias mãos,
cabendo aos diáconos o partir do pão; os presbíteros também poderão
parti-lo. Quando o diácono apresentar a eucaristia ao presbítero, estenderá
o vaso e o próprio presbítero o tomará e distribuirá ao povo pessoalmente.
Nos outros dias, os fiéis receberão a eucaristia de acordo com as ordens do
bispo.
4.2 - O
jejum
As viúvas e as virgens devem
jejuar e rezar freqüentemente pela Igreja. Os presbíteros e os leigos podem
jejuar quando quiserem. O bispo, porém, não pode jejuar a não ser no dia em
que todo o povo o faz, pois é possível que alguém queira levar algo até a
igreja, não podendo ele recusar pois, se parte o pão, deverá prová-lo.
4.3 - O
ágape
Caso o presbítero não esteja
presente, o diácono dará, em casos de urgência, o sinal [signum] aos
enfermos com cuidado. Após dar o necessário e receber o que for distribuído,
dará graças e aí comerão. Todos aqueles que recebem algo devem dar com
cuidado: se alguém receber algo para levar a uma viúva, um doente ou alguém
que se dedique à Igreja, devem levá-lo no mesmo dia; se não o fizer, deve
levar no dia seguinte, acrescentando com algo de seu por ter permanecido na
sua casa o pão dos pobres.
4.4 - A
lucerna
No início da noite, com a
presença do bispo, o diácono trará a lucerna e aquele, de pé no meio de
todos os fiéis presentes, dará graças. Primeiramente, fará a saudação,
dizendo: "O Senhor esteja convosco". O povo responderá: "E com o teu
Espírito". [Dirá:] "Demos graças ao Senhor". E responderão: "É digno e
justo. A Ele convém a grandeza e a exaltação com a glória". Não dirá:
"Corações ao alto" porque já o faz no sacrifício, mas rezará da seguinte
forma: "Graças te damos, Senhor, pelo teu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor,
pelo qual nos iluminaste, revelando-nos a luz incorruptível. Atingindo agora
o fim do dia e chegando a noite, tendo-nos saturado a luz do dia que criaste
para nos saciar, e não carecendo agora da luz da tarde pela tua graça,
louvamos-te e glorificamos-te, pelo teu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor, por
quem a ti a glória, o poder e a honra, com o Espírito Santo, agora e sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém". Responderão todos: "Amém". Terminada a
ceia, de pé, todos rezarão e os meninos e as virgens entoarão salmos. A
seguir, o diácono, ao receber o cálice preparado do sacrifício, entoará um
desses salmos que possui a palavra "Aleluia". Se o presbítero ordenar,
entoará outro salmo do mesmo tipo. Depois que o bispo oferecer o cálice,
dirá um dos que a este se referem, tudo com "Aleluia", e todos repetirão.
Recitando-os, repetirão sempre "Aleluia", que significa "louvamos Aquele que
é - Deus". Glória e louvor Àquele que criou o Universo somente pelo Verbo.
Concluído o salmo, o bispo abençoará o cálice e distribuirá os pedações de
pão aos fiéis.
4.5 - A ceia
Os fiéis presentes, durante a
ceia, antes de cortarem o seu próprio pão, receberão das mãos do bispo o
pedaço de pão que é uma "eulogia" e não a eucaristia, Corpo do Senhor. É
preciso que todos tomem o cálice e rendam graças sobre ele antes de beberem.
Portanto, com pureza, comam e bebam. Aos catecúmenos será dado o pão de
exorcismo e oferecido um cálice. O catecúmeno não participará da ceia do
Senhor. Durante todo o sacrifício, aquele que se serve deve ser digno de
quem o convidou, pois para isso foi chamado a entrar sob o seu teto. Agora,
quando comerdes e beberdes, fazei-o com dignidade e não com
irresponsabilidade, para que ninguém fique zombando ou para que aquele que
te convidou não se entristeça com a vossa afronta, esperando ser digno que
os santos entrassem em sua casa porque, diz, vós sois o sal da terra. Se
alguém oferecer a todos aquilo que se chama em grego apoforeton, aceitai a
vossa parte. Porém, se fordes convidado a comer, fazei-o de forma a sobrar,
para que todos comam o suficiente e para que aquele que vos convidou possa
mandar algo a quem quiser, como sobras dos santos, e fique feliz com a vossa
atenção. Comendo, sirvam-se em silêncio os convidados, sem discussões,
falando somente o que for permitido pelo bispo, respondendo-lhe se perguntar
algo. Ao falar o bispo, calem-se todos, com discrição e respeito, até que
ele volte a fazer perguntas. Se os fiéis comparecerem à ceia sem o bispo,
com a presença de um presbítero ou um diácono, deverão comer com a mesma
dignidade e apressar-se a receber o pão bento da mão do presbítero ou
diácono. Também o catecúmeno receba o pão do exorcismo. Reunindo-se leigos,
procedam com prudência, pois um leigo não pode conferir o pão bento. Comam
todos em nome do Senhor, pois agrada a Deus quando todos, iguais e sóbrios,
somos ciosos do nosso comportamento, mesmo entre os gentios. As viúvas
convidadas para a ceia devem ser de idade madura e devem ser dispensadas
antes do final da tarde. Quem não puder convidá-las por causa do cargo que
exercem, deve dispensá-las após dar-lhes alimento e vinho que tomarão em
casa da forma que lhes agradar.
4.6 - Frutos oferecidos ao bispo
Todos devem se apressar a
trazer os primeiros frutos da estação ao bispo. Este irá oferecê-los e
abençoá-los e, citando quem os oferece, dirá: "Graças te damos, ó Deus, e te
oferecemos as primícias dos frutos que nos deste para que os tomemos,
nutrindo-os pelo teu Verbo, ordenando à terra que os produza com alegria o
alimento dos homens e de todos os animais. Por causa disso tudo, te
louvamos, ó Deus, e também por tudo que nos proporcionaste, provendo para
nós toda a criação dos mais diversos frutos. Por teu Filho, Jesus Cristo
Nosso Senhor, por quem a ti a glória pelos séculos dos séculos. Amém".
4.7 - Bênção dos frutos
Os frutos que podem ser
abençoados são a uva, o figo, a romã, a azeitona, a pêra, a maçã, a amora, o
pêssego, a cereja, a amêndoa e os damascos. Não podem [ser abençoados] a
melancia, o melão, os pepinos, a cebola, o alho ou qualquer outro legume.
Pode-se oferecer, às vezes, flores: rosas e lírios, mas não outras. E, sobre
todas as coisas, os que as recebem dêem graças ao santíssimo Deus, para a
sua glória.
4.8
- Jejum da Páscoa
Na Páscoa, ninguém coma antes
de se fazer o sacrifício, pois quem assim proceder não terá seu jejum
considerado. Se uma mulher estiver grávida ou não se sentir bem, não podendo
jejuar durante os dois dias, jejue pelo menos no sábado, já que é
necessário; mas será um jejum de pão e água. Se alguém, por algum problema,
se esquecer da Páscoa, jejue após a Qüinquagésima. A imagem passou, cessando
no segundo mês, mas todo aquele que tiver aprendido a verdade deverá jejuar.
4.9 - Os diáconos
trabalham com o bispo
Que cada diácono, com seus
subdiáconos, executem suas tarefas junto ao bispo. Também lhes serão
recomendados os doentes, para que os visitem, caso seja de agrado do bispo,
pois o doente sempre se alegra quando o chefe dos sacerdotes dele se lembra.
4.10 - A
oração
Os fiéis de Deus devem rezar
assim que acordarem e levantarem, antes de tocar qualquer coisa. Só depois
disso é que devem sair para o trabalho. Contudo, se houver instrução pela
Palavra, que prefiram ouvir a Palavra de Deus, pois esta é o consolo da
alma, e se apressem a ir para a igreja, onde o Espírito floresce.
4.11 - Comunhão diária
Que todo fiel corra a receber a
eucaristia antes de experimentar qualquer outra coisa. Se receber por causa
de sua fé, não se prejudicará, mesmo sendo o homem mortal. Todos devem se
esforçar para não permitir que o infiel prove a eucaristia, nem um rato ou
outro animal; deve-se cuidar para que dela não caia uma migalha e se perca,
pois ela é o Corpo de Cristo que deve ser comido pelos fiéis e não pode ser
negligenciado. Consagrado o cálice em nome de Deus, que recebestes como a
imagem do Sangue de Cristo, não queirais derramá-lo. Que o espírito hostil
não venha lambê-lo, desprezando-o, pois serias culpado para com o Sangue,
como quem despreza o valor pelo qual foi comprado.
4.12 - Reunião do clero
Os diáconos e os presbíteros
deverão se reunir diariamente no local determinado pelo bispo. Não se deixem
de reunir a menos que a doença impeça. Reunindo-se todos, ensinem os que
estão na igreja e, após a oração, dirija-se cada um ao seu trabalho.
4.13
- Os cemitérios
Que ninguém encontre
dificuldades para sepultar o irmão nos cemitérios, já que estes pertencem
aos pobres. Porém, pague-se o salário ao coveiro, bem como o preço dos
tijolos. O bispo deve sustentar guardas e zeladores para que nenhuma taxa
seja cobrada àqueles que procuram os cemitérios.
4.14
- A oração - II
Todo fiel, homem ou mulher, ao
acordarem, lavem as mãos e rezem a Deus antes de tocar qualquer coisa. Só
após isto, dirijam-se ao trabalho. Havendo instrução da Palavra de Deus,
prefiram encaminhar-se ao local recordando que, na verdade, estão ouvindo a
Deus na pessoa daquele que prega. Todo aquele que rezar na igreja vencerá a
maldade do dia; aquele que teme a Deus considerará um grande mal não ter ido
à instrução, principalmente se souber ler ou sabendo que o catequista estava
presente. Que nenhum de vós se atrase para ir à igreja, lugar onde se
ensina. Ao que fala, será concedido dizer o que é útil a cada um. Ouvirás
coisas nas quais não imaginas e tirarás proveito do que o Espírito Santo vos
disser pelo catequista. Vossa fé será reforçada com aquilo que ouvirdes. Aí
também será dito o que deveis fazer em casa. Por isso, cada um deve se
preocupar em ir à igreja, onde o Espírito Santo floresce. Nos dias em que
não houver instrução, cada um em sua casa tome o Santo Livro e leia o que
lhe parecer proveitoso. Se estiverdes em casa, rezai e bendizei a Deus na
hora terceira. Se estiverdes num outro local, rezai a Deus no coração, pois
foi nessa hora que Cristo se viu pregado no madeiro. Também por essa razão,
a Lei do Antigo Testamento prescreve que se ofereça o pão da proposição,
como imagem do Corpo e Sangue de Cristo, e a imolação do cordeiro, como
imagem do Cordeiro perfeito: Cristo é o Pastor e o Pão que desceu do céu.
Rezai, igualmente, na hora sexta pois, quando Cristo foi pregado na cruz, o
dia se dividiu e as trevas surgiram. Nessa hora, todos rezarão uma oração
fervorosa, imitando a voz Daquele que, ao rezar, cobriu de trevas toda a
criação perante os judeus incrédulos. Façam, ainda, uma grande prece
exaltando o Senhor por volta da hora nona, para sentirem como a alma dos
justos glorifica a Deus, que não é mentiroso e lembra dos seus santos,
enviando seu Verbo para iluminá-los. Foi nessa hora que Cristo, ferido no
lado, verteu água e sangue, e iluminou o resto do dia até o final da tarde.
Começando a dormir, Cristo originou o dia seguinte e concluiu a imagem da
ressurreição. Rezai ainda antes de dormir. Por volta da meia-noite,
levantai, lavai as mãos com água e rezai. Se vossa mulher estiver presente,
rezai ambos; se ainda não for batizada, retirai-vos para outro quarto, rezai
e voltai para a cama. Não hesitai, porém, de rezar, pois aquele que se
encontra casado não está manchado. Em verdade, os que já tomaram banho não
precisam tomar outro pois encontram-se limpos. Fazei o sinal da cruz com o
sopro úmido, recolhendo a saliva com a mão, e o vosso corpo será purificado
até os pés, pois o dom do Espírito e a água do banho, oferecidos por um
coração puro como se saíssem de uma fonte, purificam todo aquele que crê.
Assim, é necessário rezar nesse momento. Os antigos, que nos deixaram a
tradição, ensinaram-nos que nessa hora toda criatura descansa um momento
para louvar o Senhor; até mesmo as estrelas, as árvores e as águas param por
um instante e, com toda a milícia dos anjos que servem a Deus, e junto com
as almas dos justos, glorificam a Deus. Por esse motivo, todos os que crêem
devem se apressar para rezar nessa hora. Para dar testemunho disso, assim
diz o Senhor: "Eis que por volta da meia-noite ouviu-se o clamor dos que
diziam: 'Aí vem o noivo. Saiam ao seu encontro'. E concluiu, dizendo:
'Vigiai, pois não sabeis a hora em que virá'". Quando o galo cantar,
levantai e rezai, pois nessa hora, ao cantar do galo, os filhos de Israel
negaram a Cristo, que conhecemos pela fé, confiantes na esperança da eterna
luz da ressurreição dos mortos; temos os olhos fixos nesse dia. Fiéis:
procedendo dessa forma, respeitando a tradição, instruindo-vos mutuamente e
exortando os catecúmenos, não sereis tentados nem perecereis, pois o Cristo
estará sempre presente na lembrança.
4.15 - O sinal da cruz
Durante a tentação, fazei
piedosamente na fronte, o sinal da cruz, pois este é o sinal da Paixão
reconhecidamente provado contra o demônio, desde que feito com fé e não para
vos exibir diante dos homens, servindo eficazmente como um escudo: o
Adversário, vendo quão grande é a força que sai do coração do homem que
serve o Verbo (pois mostra o sinal interior do Verbo projetado no exterior),
fugirá imediatamente, repelido pelo Espírito que está no homem. Era isso que
o profeta Moisés representava através do cordeiro morto na Páscoa e ensinava
ao aspergir o sangue nos batentes das portas: simbolizava a fé que agora se
encontra em nós, ou seja, a fé no Cordeiro perfeito. Ora, persignando-nos na
fronte e nos olhos com a mão, afastamos tudo aquilo que tenta nos destruir.
5. Final
Se estes ensinamentos forem
recebidos com gratidão e fé ortodoxa, permitirão a edificação da Igreja e a
vida eterna àqueles que crerem. Aconselho que [estes ensinamentos] sejam
guardados por todos que tiverem o coração puro. Se todos ouvirem e seguirem
a tradição dos apóstolos, nenhum herege (nenhum mesmo!) poderá vos afastar
do reto caminho. Na verdade, muitas heresias se desenvolveram porque os
chefes não quiseram aprender a doutrina dos apóstolos mas, seguindo a
própria fantasia, fizeram o que quiseram, isto é, o que não deveriam fazer.
Amados: se omitimos algo, Deus revelará [a verdade] aos que forem dignos,
dirigindo a Igreja para que atraque no porto da paz.
Mais de Santo Hipólito de Roma em SOPHIA.
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