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«O delicado problema do patriarcado
greco-católico na Ucrânia»

«Gostaria de submeter a Vossa atenção uma questão muito séria [...]. Trata-se, em particular, da vossa intenção de instituir o patriarcado unido [greco-católico, ndr.] na Ucrânia, intenção comunicada a nosso irmão Aléxis, patriarca de Moscou e de todas as Rússias por vosso cardeal Walter Kasper, como me informou o próprio patriarca de Moscou». É assim, desde as primeiras linhas, que a recente carta enviada diretamente a João Paulo II pelo patriarca ecumênico Bartolomeu I entra, sem rodeios, na questão do reconhecimento papal da Igreja greco-católica ucraniana como patriarcado, que vem sendo discutida.

A longa carta do Patriarca traz a data de 29 de novembro de 2003 e confirma indiretamente o alto nível das discussões que se desenvolvem em Roma e entre o Vaticano e as Igrejas ortodoxas a respeito do reconhecimento do patriarcado greco-católico na Ucrânia. Bartolomeu revela que o próprio patriarca Aléxis II fez “circular” entre ele e todos os outros patriarcas ortodoxos a carta que lhe foi enviada pelo Vaticano a respeito da delicada questão. Acrescenta também que, anexado à carta, havia um texto “de apoio” de caráter histórico-canônico a respeito da gênese e do desenvolvimento da instituição dos patriarcados, atribuído pelo patriarca ao cardeal alemão Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Boa parte da longa carta de Bartolomeu, repleta de argumentos conceituais, consiste precisamente numa forte contestação deste estudo, cheia de citações dos cânones dos primeiros Concílios Ecumênicos. Segundo o patriarca, no texto enviado pelo cardeal alemão se encontrariam “interpretações infundadas” que “podem ser consideradas um retorno anacrônico aos esquemas medievais da polêmica teológica”, quando os teólogos católicos usavam argumentos “contra o trono de Constantinopla e a própria instituição dos patriarcados” para justificar “a teoria do primado do papa”.

A primeira coisa que Bartolomeu contesta no documento em questão é a tendência a interpretar a vontade imperial como fator preponderante na gênese histórica dos patriarcados (e, em particular, do de Constantinopla). Segundo ele, é fácil demonstrar que já nos três primeiros séculos havia tomado forma na Igreja “não apenas a instituição do Sínodo, mas também o primado de ancianidade honorífica das sedes eclesiásticas mais relevantes (Roma, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, Cartago, Éfeso, etc.)”, para enfrentar questões graves como os períodos de perseguição e a defesa da fé contra as heresias. “Essa tradição, atuante nos primeiros três séculos, foi consagrada como costume antigo (archaion ethos) nos cânones 6 e 7 do primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia (325) e constituiu a base canônica da configuração definitiva do sistema patriarcal com o quarto Concílio Ecumênico de Calcedônia (451)”. Portanto, segundo Bartolomeu, “pode-se definir anti-histórica a conotação do sistema patriarcal como construção imperial da época de Justiniano. Se, por hipótese, essa caracterização tivesse algum valor, ela seria atribuída com maior razão à sé de Roma, como sede da capital do Império Romano, titular do primado honorífico de ancianidade entre os cinco tronos patriarcais” [Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, ndr.]. Na reconstrução assinada por Bartolomeu sublinha-se que os delegados papais presentes nos Concílios Ecumênicos em questão também não opuseram à forma do sistema patriarcal que estava nascendo: “O cardeal sabe muito bem que os bispos de Roma, até o cisma entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, consideravam-se patriarcas do Ocidente e se comportavam como tal”. Segundo Bartolomeu, nem mesmo a efetiva multiplicação de patriarcados no Oriente, que aconteceu na esteira das controvérsias e das rupturas doutrinais que se seguiram aos concílios de Éfeso e Calcedônia, pode ser usada como argumento histórico para justificar de algum modo o reconhecimento de um novo patriarcado para os católicos ucranianos de rito oriental.

Bartolomeu adverte que “pôr num mesmo plano o sistema canônico dos tronos patriarcais e os patriarcados nestorianos e anticalcedônios contradiz a posição papal antes do grande cisma”, quando o bispo de Roma, em comunhão com a Igreja de Constantinopla, havia compartilhado sua ruptura com os nestorianos e com todos os que não haviam aceito os cânones do Concílio de Calcedônia.

Depois do longo excursus histórico-canônico, a carta de Bartolomeu (também publicada no site do patriarca ecumênico em língua grega) demonstra preocupação com as possíveis conseqüências negativas de um eventual reconhecimento do título patriarcal para a Igreja greco-católica ucraniana: “Provocará fortes reações por parte de todas as Igrejas irmãs ortodoxas e obstruirá as tentativas de continuação do diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas, que, depois do fracasso do encontro de Baltimore, vive um momento crítico”. Segundo Bartolomeu, existe “o perigo de se voltar ao clima de hostilidade vigente até poucas décadas atrás. Portanto, é preciso que Vós assegureis, com força persuasiva, o povo ucraniano e todas as Igrejas ortodoxas de que não tendes intenção de pôr em prática a instituição do patriarcado greco-católico na Ucrânia, referida no texto do cardeal Kasper”.

Não é difícil pensar que Kasper falará também disso com o patriarca Aléxis II, chefe da Igreja Ortodoxa russa, e com o metropolita Kirill de Smolensk e de Kaliningrad, em seu iminente encontro em Moscou, anunciado para a terceira semana de fevereiro.

Fonte:

Revista 30Dias na Igreja e no mundo - Edição Janeiro 2004

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